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    Marta Suplicy

    Simples assim

    27/11/2015 02h00

    Gosto muito de ler os artigos do professor Delfim Netto nesta Folha e no "Valor". Ele dá aula sobre a alma humana enquanto coloca no contexto adequado as dificuldades de compreensão da economia e dos economistas que não levam em consideração o mundo real. Além de escrever num economês compreensível.

    Em seus últimos artigos no "Valor", "Só o político pode salvar a economia" (10/11) e "O pensamento mágico" (24/11), o professor Delfim fala da necessidade que o ser humano tem de "viajar", negar a realidade, mesmo quando tudo em volta indica a fantasia que a pessoa está mergulhada. Lembra que nas urnas o povo é seduzido pela alegria das promessas mirabolantes, a ter paciência e fazer sacrifícios.

    No mesmo dia, a Folha publicou uma página sobre a Associação Mundial de Psiquiatria reconhecer a importância de incluir a espiritualidade no ensino, pesquisa e prática clínica da psiquiatria. "O maior impacto positivo do envolvimento religioso na saúde mental é entre pessoas sob estresse ou em situações de fragilidade, como idosos, pessoas com deficiência e doenças clínicas." Parte da população vive sob estresse e acredito que rezar é uma ação que pode não só confortar, aproximar da realidade, mas criar uma esperança e fé, ajudando a pessoa a acreditar em si. Mexer-se. Sair do imobilismo. E até empreender. Bem melhor do que pensamento mágico.

    Com tudo isso na cabeça, como incentivar o gigantesco número de indivíduos que acreditaram em si e que tem de lutar para, nesta crise, não fecharem as portas? Falo dos micro e pequenos empresários deste país, que já somam 10 milhões e que sobrevivem a duras penas.

    Como despertar o "instinto selvagem", que só se acende com a oportunidade de crescimento e lucro? Como levar o crédito razoável para quem os bancos torcem o nariz? Como abrigar o novo contingente de desempregados que poderia se interessar em abrir um negócio? Como superar a falta de credibilidade do governo, as incertezas jurídicas, o desânimo que nem o pensamento mágico consegue superar?

    O aprimoramento do Supersimples, do qual sou relatora, a ser votado na próxima semana, combate entraves ao crescimento e à competitividade das micro e pequenas empresas: acaba com os trancos tributários e reduz ainda mais a burocracia. No projeto, facilita-se o acesso do pequeno ao crédito, permitindo ao cidadão, organizado como empresa, emprestar aos negócios do seu município e protege-se o "investidor-anjo" –indivíduo que utiliza seu dinheiro para financiar diretamente empreendimentos ainda em estágio inicial.

    Ação, que pode ser motivada pela oportunidade ou pela sobrevivência, é sempre melhor que pensamento mágico.

    marta suplicy

    Escreveu até julho de 2016

    É senadora e ex-prefeita de São Paulo. Foi ministra dos governos Luiz Inácio Lula da Silva (Turismo) e Dilma Rousseff (Cultura).

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