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    Marta Suplicy

    Democracia digital

    15/01/2016 02h00

    Sob a guarda da internet, e por esta potencializada, se processa uma verdadeira revolução no processo político contemporâneo. O fenômeno é global. As pessoas, jovens especialmente, manifestam-se e influenciam os processos decisórios da sociedade, mas o fazem, porém, longe dos canais partidários. Fomentam a democracia direta.

    Ninguém ainda descobriu os limites dessa política 2.0 que inunda as redes sociais. Alguns a saúdam, por enxergarem nela uma superação do velho regime republicano, representativo, baseado na eleição de vereadores, deputados, senadores. Outros enxergam nela apenas um modismo, que mobiliza as pessoas, mas jamais conseguirá sobrepujar a democracia assentada nos partidos políticos.

    Minha opinião segue o caminho do meio. Penso que as redes sociais oxigenam a democracia representativa. Mas uma coisa não substitui a outra. Entendo que deverá existir uma convivência, uma articulação positiva, jamais qualquer subordinação, entre a velha política partidária e o contemporâneo ativismo civil.

    No fundo, são distintos seus propósitos. Com auxílio da internet, pessoas e grupos crescentemente se organizam para defender causas, as mais variadas possíveis. Desde o passe livre no transporte, até o bem-estar animal, ou as crianças desaparecidas, ou a cultura regional. É magnífico observar esse processo de organização comunitária, coletiva.

    Já os partidos políticos, embora meio fossilizados, continuam tendo seu papel valioso no encaminhamento das reivindicações populares, seja elaborando legislação, seja pressionando o poder executivo. Aqui está o xis da questão: conseguirão os partidos políticos renovar seus métodos para conversar com essa sociedade engajada, com suas organizações independentes e livres? Ou estarão fechados para essa agenda da contemporaneidade?

    A recente proposta do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, sobre eleições diretas para as 32 subprefeituras da capital pode ser analisada nesse contexto da nova democracia digital. Ele buscou inovar, mas permaneceu dentro da velha política. Defendeu a vinculação partidária dos eventuais candidatos. Criou um engodo populista.

    Minha visão se opõe à de Haddad. Os subprefeitos devem continuar a ser indicados pelo mandatário eleito. Eles podem ter vinculação partidária ou não. Sua credencial, isso que importa, é a capacidade de articulação com os movimentos sociais e coletivos na base, vinculando sua ação às causas regionalmente organizadas. A internet será valiosa nesse processo.

    Creio que a cidade de São Paulo pode ser um bom laboratório da política 2.0. Vamos acreditar e investir na democracia digital.

    marta suplicy

    Escreveu até julho de 2016

    É senadora e ex-prefeita de São Paulo. Foi ministra dos governos Luiz Inácio Lula da Silva (Turismo) e Dilma Rousseff (Cultura).

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