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    Marta Suplicy

    Nossa São Paulo

    22/01/2016 02h00

    Tristeza e indignação. Foram os sentimentos que me invadiram quando li a pesquisa de Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município (IRBEM), realizada pelo Ibope a pedido da ONG Rede Nossa São Paulo e da FecomercioSP. Essa sensação de desconforto já estava comigo numa visita, dias atrás, a uma AMA, na zona norte da cidade.

    Conversei com dezenas de senhoras que esperavam para marcar consulta. Estavam lá há mais de 3 horas e, com sorte, sairiam com uma agenda de atendimento para daí a alguns meses. O tempo de espera no sistema público de saúde piorou passando de 56 para 82 dias para uma simples consulta. A espera para exames, de 78 para 98 dias; para procedimentos mais complexos, de 169 para 186 dias.

    E por que há a necessidade de presença física, horas de fila, se estamos na era digital? A desculpa que ouvi para o calvário das pessoas é que "não tem funcionários". Eu me indigno como cidadã e como gestora pública. A informatização estava encaminhada há mais de década com o Siga Saúde.

    Informatizar é mais do que dar conforto e respeito merecido ao cidadão: é gestão, dignidade, o encaminhamento mais rápido e fiscalização.

    Nossa São Paulo é hoje a cidade da exclusão. Dói saber que 68% dos entrevistados, se pudessem, sairiam da cidade. Na pesquisa anterior do IRBEM, eram 57% aqueles que desejavam ir embora. Quem ama São Paulo não pode aceitar essa crescente desilusão.

    Logo no início de 2004, o Datafolha perguntou "você diria que tem mais orgulho do que vergonha ou mais vergonha do que orgulho de morar em São Paulo?". Como resposta, 83% dos entrevistados responderam que tinham mais orgulho.

    Foi nesse clima de congraçamento da cidade de mil povos, das inaugurações como a da fonte do Ibirapuera, a do auditório que Niemeyer havia projetado 50 anos antes que celebramos os 450 anos de São Paulo. Havia muito ainda por fazer.

    Principalmente na área da saúde que, por causa da falência do PAS (Plano de Atendimento à Saúde do Município de São Paulo), estava voltando ao SUS e iniciava sua reestruturação.

    Temos que pensar e superar os velhos e os novos desafios.

    São Paulo precisa voltar a ser a cidade da inclusão. Que o cidadão não seja surpreendido ao abrir a porta de casa e deparar com uma faixa pintada na rua, implantada sem nenhum critério ou planejamento. Que não sejamos vítimas da indústria de multas indiscriminada, advinda da ganância arrecadatória insana e sem sentido. Decisões que não passam pelo crivo da população.

    Os paulistanos querem ser ouvidos, desejam um novo projeto para a cidade que incorpore o sentido de pertencimento.
    Nesta segunda, 25 de janeiro, nossa cidade completa 462 anos. Parabéns, São Paulo!

    marta suplicy

    Escreveu até julho de 2016

    É senadora e ex-prefeita de São Paulo. Foi ministra dos governos Luiz Inácio Lula da Silva (Turismo) e Dilma Rousseff (Cultura).

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