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    Marta Suplicy

    Janela aberta

    19/02/2016 02h00

    Em 2012, Nova York comemorou o sucesso de 200 anos de seu plano diretor! Fora Manhattan e Greenwich Village, a ilha era uma grande zona rural. A prefeitura concebeu, em 1811, um plano adaptável ao seu crescimento. Em 1850, a pedido da população que queria uma área verde, foi substituída a construção de prédios pela criação do Central Park.

    Cidades variam o tempo para fazer um plano diretor, mas não são necessariamente os anos de trabalho que qualificam um bom plano, e sim uma visão ampla do que a sociedade almeja hoje e a garantia do que desejamos para as futuras gerações. Além de o timoneiro ter bom senso e coragem para enfrentar a especulação imobiliária.

    Nada disso ocorreu em São Paulo. Foram desprezados os Planos Regionais Estratégicos das Subprefeituras, que permitiam o diálogo com as especificidades de cada bairro. Interesses imobiliários tiveram peso, as audiências foram menos numerosas do que o adequado e suas sugestões e também as feitas via internet foram em grande parte ignoradas até a véspera da votação. Além da intranquilidade gerada pela constante mudança de mapas aprovados.

    A forma atabalhoada e desrespeitosa para com a população levou a um plano e agora a um zoneamento (este ainda dá para evitar) que destruirão a cidade moderna, planejada com critérios de desenvolvimento adequados e discutidos, com mais áreas verdes e a qualidade de vida que desejamos.

    A pressão dos insatisfeitos fez a prefeitura recuar na permissão de abertura de comércios como restaurantes, bares e baladas nas regiões tombadas como Pacaembu, City Lapa e Jardins. Isso não justifica o não atendimento ao mesmo pleito de outras localidades –Alto de Pinheiros, Alto da Boa Vista, Planalto Paulista e Jardim da Saúde.

    São duros golpes para a cidade a retirada de 3,2 milhões de m² em zona de proteção ambiental e a liberação para construir em 1,4 milhão de m² em áreas de mananciais. Também é péssimo a retirada de 148 mil m² das áreas de interesse social tipo 5, liberando para especulação imobiliária terrenos que eram destinados a habitações populares.

    A ampliação do perímetro da Operação Urbana Água Espraiada, que vai gerar adensamento, está errada por muitos motivos. O principal é que a revisão deveria ser na própria lei da operação urbana, e não na lei de zoneamento. Serão duas leis contraditórias para gerar impasse e confusão.

    Disse o ex-diretor de planejamento urbano de Nova York (Alex Washburn), "há momentos curtos de oportunidade para mudar as regras: quando esta janela se fecha, não é mais o urbanista que desenha a cidade, mas sim os construtores, investidores e políticos".

    Não permitamos que isso aconteça!

    marta suplicy

    Escreveu até julho de 2016

    É senadora e ex-prefeita de São Paulo. Foi ministra dos governos Luiz Inácio Lula da Silva (Turismo) e Dilma Rousseff (Cultura).

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