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    Marta Suplicy

    Cadê a tinta?

    04/03/2016 02h00

    Bombou o vídeo que o jornalista Carlos Tramontina postou domingo (28) no Facebook perguntando "Cadê a tinta que estava aqui?" Ele falava, indignado, da ciclovia da Berrini –perto da ponte Ari Torres: avenida dos Bandeirantes em direção ao Shopping Morumbi, na zona sul. "Uso muitas vezes, passo de bicicleta por aqui e olha só a situação da pista! Ela foi entregue há poucos meses, para uso da população, e está uma porcaria! Soltou tudo! Soltou a tinta! Soltou a impermeabilização!"

    Tramontina pergunta: "Será que a prefeitura fiscalizou a obra? Se tivesse fiscalizado, isso não poderia acontecer". Também questiona: "A empresa que fez, fez do jeito correto?". Comenta: "Um cara passou por aqui e disse que era engenheiro da empresa e disse que ela foi feita de qualquer jeito mesmo porque a prefeitura pressionou para fazer uma festa de inauguração. Será verdade? Eu não sei".

    O ponto-chave dos questionamentos: "Só que isso aqui terá que ser refeito. E aí eu pergunto: quem vai pagar pelo resserviço?". A resposta, em mais de 30 mil comentários, na média, foi: "A corda sempre arrebenta do lado mais fraco: o lado do povo. Então, adivinha quem vai pagar a conta?", conclusão da internauta Janete Ogawa.

    É isso mesmo! O povo vai acabar bancando o resserviço, que já custou mais do que deveria!

    Reportagem da "IstoÉ" (edição 2.412, 26/2) "A ciclovia mais cara do mundo" informa: "O custo médio de cada quilômetro construído sai por estratosféricos R$ 650 mil. Supera, por exemplo, cinco vezes o valor pago por Paris. É maior também do que o desembolsado por cidades díspares, como Nova York e Buenos Aires, R$ 315 mil". Por isso, o Ministério Público está investigando.

    A ciclovia Ceagesp-Ibirapuera, de acordo com a reportagem "uma obra simples e plana, com apenas faixas vermelhas de sinalização", saiu por R$ 4,4 milhões. Um absurdo!

    Já disse que sou a favor das ciclovias, desde que sejam feitas com planejamento e critério. Vi uma que me pareceu muito bem executada, arborizada e com sentido: na Eliseu de Almeida, Vila Sonia. Sai de perto do metrô Butantã e vai até divisa de Taboão da Serra. Por que outras tantas não tiveram esse cuidado? Preços precisam ser investigados e decisões revistas.

    Numa cidade que precisa urgentemente dar respostas eficientes quanto à mobilidade, onde soluções como o Bilhete Único esbarram na incompetência para recarregá-lo, o descaso pelo dinheiro público, pelo respeito com a população (vide experimentos de mudança de mão em avenidas) e a total falta de planejamento ficam evidentes.

    Se você não viu o vídeo, dê uma espiadinha na página do Tramontina. É isso: "Cadê a tinta?"

    marta suplicy

    Escreveu até julho de 2016

    É senadora e ex-prefeita de São Paulo. Foi ministra dos governos Luiz Inácio Lula da Silva (Turismo) e Dilma Rousseff (Cultura).

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