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    Marta Suplicy

    Obama

    25/03/2016 02h00

    "Confiança. Esse é o segredo para o sucesso de um homem", comentou o avô de Obama sobre seu pai quando o menino o estava conhecendo. Carismático, seguro, envolvente, inteligente, parecem qualidades desse progenitor com quem o pequeno pouco conviveu. Seu livro autobiográfico "A origem dos meus sonhos" descreve bem a infância e a influência da mãe e dos avós brancos de Obama sobre a criança que muitas vezes tinha o sentimento de "não pertencer àquele lugar", referindo-se à escola de elite, por mérito, a quando morou no Havaí com os avós, ao retorno sozinho da Indonésia, onde viveu com a mãe, padrasto e irmã por três anos e mais tarde à universidade.

    Quando li sua trajetória de vida, pensei: que caráter extraordinário e conciliador foi forjado nessa conjugação de raças!

    Quando Obama disputou as primárias com Hillary Clinton, em 2008, comecei torcendo por ela, pela sua história em relação ao avanço dos direitos das mulheres e das crianças. Terminei não muito pesarosa que o vencedor tenha sido um homem negro, que me encantou pelo otimismo, pela oratória, por uma aura de integridade e pela não radicalidade. Ao mesmo tempo, nos insuflava um vento de esperança na humanidade: "Yes, we can". E podíamos todos!

    Não foi bem assim, pois os limites para realizar o sonho – até para um presidente americano – existem. Durante esses anos, acompanhamos o seu senso de realidade e, por conta, o equilíbrio nas posições; o enfrentamento com um Senado republicano e as difíceis decisões bélicas. Registre-se a ausência de escândalos e a qualificação de sua equipe.

    Avançou em questões humanistas. Na saúde, com o Obamacare, que atende 32 milhões de americanos, na lei "don't ask, don't tell", e ampliou a lista dos crimes baseados em ódio. Fez um governo muito menos bélico que seu antecessor, buscando resolver na diplomacia o que parece impossível na atual conjuntura do Oriente Médio, retirando as tropas do Iraque, mas também sofrendo revezes dos quais Hillary participou como secretária de Estado.

    No segundo mandato, com a preocupação de um legado, Obama mostrou a que veio. Em forma inspiradora, mantendo o equilíbrio e a elegância de sempre, iniciou seu discurso em Cuba lembrando José Martí, "cultivo uma rosa branca", da paz. Terminou seu discurso como começou a entrar para História: "Sí, se puede".

    Que tristeza ver a falta de compostura dos contendores na atual disputa americana! Mas creio que esse pesadelo será evitado e viveremos a experiência da primeira mulher na Presidência dos Estados Unidos. Acredito que pelas suas inegáveis qualidades e bagagem, esse outro mandato democrata estará à altura do primeiro negro a ocupar o pódio americano.

    marta suplicy

    Escreveu até julho de 2016

    É senadora e ex-prefeita de São Paulo. Foi ministra dos governos Luiz Inácio Lula da Silva (Turismo) e Dilma Rousseff (Cultura).

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