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    Marta Suplicy

    Internet às claras

    24/06/2016 02h00

    Vi, achei sensacional e compartilhei na minha página no Facebook a campanha da ONG Criola contra racismo virtual.

    Há quase um ano, no Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial, um grupo pensou estar "protegido" pelo anonimato e usou redes sociais para atacar a apresentadora Maju, do "Jornal Nacional". O Ministério Público apurou e está denunciando essas pessoas que criaram uma onda de ataques.

    A sacada da ONG Criola foi, com apoio de empresas de mobiliário urbano, colocar nas ruas do país mensagens reais (chocantes) publicadas contra Maju. Puseram a imagem meio apagada do agressor e sua horrível frase em outdoors próximos de suas residências. Um deles foi alertado por um amigo: era ele; estava descoberto. Forte impacto. Caiu em si e foi a público pedir desculpas.

    Vimos que, ao cometer o ato, não compreendera a sua gravidade. É impressionante como "a psicologia das massas", e eu acrescentaria o anonimato da internet, pode fazer surgir o lado mais feio e até desconhecido da própria pessoa. Ao menos foi o que me pareceu na entrevista do rapaz.

    O que a ONG Criola fez é um excelente exemplo. Podemos fazer muito quando nos propomos a não deixar barata a agressão, a denunciar e, principalmente, a educar. Situações e temas assim deveriam ser apropriados pelas escolas e debatidos à exaustão. Leis são necessárias, mas será na educação do cotidiano que a aprendizagem e a transformação ocorrerão.

    Mais episódios racistas e homofóbicos têm nos revelado violências que parecem gratuitas, mas no fundo são da "cultura" ou da "ignorância". A pessoa nem se dá conta.

    Um pai branco vê o filho adotado ser expulso da calçada de uma loja num endereço chique de São Paulo; no estádio, torcedora é flagrada chamando jogador de macaco...

    Nas delegacias, reconhecemos falta de sensibilidade para atender as vítimas. Mal nos recobramos do episódio da garota estuprada por vários no Rio e, perplexos, constatamos que muita gente ainda acredita que a culpa é da vítima. "Afinal ela foi até lá", "namorava traficante"... São pessoas que não têm ideia do que significa o monstruoso ato e não conhecem a lei do estupro.

    Escândalos diários de corrupção de bilhões, hospitais lotados, horas no transporte, ciclistas atropelados, moradores de rua tratados desumanamente. São tantas as questões comentadas nas nossas redes sociais que surge a onda "reset", pois parte não dá mais conta de tantas violências.

    Parece o fim? Poderíamos ter um novo começo, um desejo de humanização e respeito que já está no coração de tantos, mas não é o que vemos no mundo: Brexit x permanência da Inglaterra na UE, Trump x Hillary nos EUA... Contudo, continuo acreditando!

    marta suplicy

    Escreveu até julho de 2016

    É senadora e ex-prefeita de São Paulo. Foi ministra dos governos Luiz Inácio Lula da Silva (Turismo) e Dilma Rousseff (Cultura).

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