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    Marta Suplicy

    Um novo olhar para a educação é a chave para combater a violência

    22/07/2016 02h00

    Raquel Cunha - 31.mar.2016/Folhapress
    SAO PAULO - SP - 31.03.2016 - Especial Ensino fundamental II na Escola Estadual Doutor Alarico Silveira na Barra Funda zona oeste da capital. Sala do 6 D ano durante aula de matematica. (Foto: Raquel Cunha/Folhapress, SUP-ESPECIAIS) ***EXCLUSIVO***
    Alunos assistem a aula na Escola Estadual Doutor Alarico Silveira, na zona oeste de São Paulo

    Um respeitado estudo com cerca de 700 crianças provenientes de situações de vulnerabilidade social consideradas de "alto risco", realizado no Havaí (EUA) -acompanhadas ao longo de 60 anos e até hoje-, aponta características daquelas que conseguiram superar as adversidades e reestruturar suas vidas.

    Essas crianças foram observadas desde o primeiro ano de vida e depois aos dois, aos dez, aos 18, aos 32 e aos 40 anos de idade. Foram divididos em dois grupos e a expectativa era que o primeiro, com mães em situação de estresse no parto, extrema pobreza, pais alcoólatras e violência doméstica teria mais dificuldades emocionais e de comportamento do que o segundo, de famílias melhor estruturadas e com estabilidade financeira. Porém, o resultado surpreendeu. Um terço das crianças do primeiro grupo tornou-se adulto equilibrado, carinhoso e competente.

    O que nos interessa é exatamente o que aconteceu com esse um terço e os fatores que o fizeram "vencedor". E o que explica isso: personalidade, possibilidade de estabelecer algum vínculo afetivo (com pais, avós ou professores) e pertencimento (estar num grupo que o aceita).

    Aqui no Brasil, Yvonne Bezerra de Mello trabalha desde os anos 70 principalmente com crianças traumatizadas, tendo excelentes resultados (oito anos nas Escolas do Futuro, no Rio de Janeiro). Aplica a técnica de "gestão em sala de aula". Nessa abordagem, é preciso respeitar o tempo de concentração de cada aluno, sua faixa etária, compreender seus traumas, pois muitos são submetidos a tantas violências que não conseguem brincar, aprender.

    A autoestima e a aceitação são os pilares, se quisermos recuperar as nossas crianças que hoje vivem em condições de "alto risco". Os CEUs, em São Paulo, foram criados para desempenhar esse papel. A próxima conquista paulistana deveria ser um maciço investimento no professor, pois ele é peça chave para a formação do vínculo e da aprendizagem; em condições de trabalho e também na melhoria da infraestrutura escolar.

    Se uma criança que foi "ficando para trás" chega, digamos, à 6ª série do Ensino Fundamental sem estar devidamente alfabetizada e sem os conteúdos suficientemente compreendidos para que possa se desenvolver, vira um excluído na sala de aula e não deixa o professor ensinar. Não será difícil se enturmar, mais na frente, com maus elementos. Fazer parte de um grupo, qualquer grupo, é fundamental para enfrentar o mundo. Não tendo lar estruturado, a escola tem que exercer esse papel, antes que o crime lhe forneça a "valorização".

    São Paulo tem todas as condições de atuar junto aos professores de forma tão revolucionária quanto foram os CEUs.

    marta suplicy

    Escreveu até julho de 2016

    É senadora e ex-prefeita de São Paulo. Foi ministra dos governos Luiz Inácio Lula da Silva (Turismo) e Dilma Rousseff (Cultura).

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