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Obras da Odebrecht de aproveitamento hidrelétrico de Lauca, em Angola |
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Thursday, 13-Mar-2025 21:11:24 -03Mathias Alencastro
Odebrecht em Angola, fim do império
21/08/2017 02h37
Dia 23 de agosto, Angola realiza sua terceira eleição geral desde o término da guerra civil em 2002. Será o primeiro pleito sem José Eduardo dos Santos, presidente do país há 38 anos. A sua saída coloca um ponto final no império da Odebrecht. Trata-se de um dos episódios mais intrigantes da política externa das multinacionais brasileiras.
Em sua delação premiada, Emílio Odebrecht remonta os primeiros contatos com o regime angolano aos anos 1980. Enquanto o governo tentava conter o avanço dos combatentes da Unita, a sua empresa construía obras de infraestrutura estratégicas, ocupava minas de diamantes e até participava das tentativas de acordo de paz pilotadas pela ONU.
A vitória militar do governo em 2002 coincide com a decolagem da economia, alavancada pela alta do preço do barril de petróleo. Nessa altura, a Odebrecht era a maior doadora da Fundação Eduardo dos Santos, uma instituição que, de acordo com pesquisadores, destinava-se a desviar a renda petrolífera do Estado para os bolsos da família do presidente angolano.
Ainda segundo a delação de Odebrecht, na virada do século, o presidente angolano investiu a empresa com duas missões estratégicas: assumir o papel de Ministério-Paralelo das Obras Públicas e forjar uma elite econômica por via da conversão dos senhores da guerra em homens de negócios.
Durante a década seguinte, esse bizarro consórcio público-privado liderou um faraônico projeto de reconstrução nacional. Uma coorte de marqueteiros, consultores e aventureiros brasileiros gravitava em torno da Odebrecht e contribuía para a camuflar o regime angolano em aluno modelo do continente africano.
O colapso do superciclo de commodities em 2014 derrubou essa encenação grotesca. Desde então, em Angola, hospitais funcionam sem seringas, escolas abrem sem professores, e áreas habitacionais recém construídas viraram cidades-fantasma.
O desperdício de uma década de prosperidade desencadeou uma revolta silenciosa da população. Pressionado, o vetusto presidente decidiu ceder o lugar a um quadro do seu partido, João Lourenço, a fim de preservar os interesses financeiros da sua família. Totalmente comprometida com Dos Santos, a Odebrecht parece destinada a perder o seu lugar de mestre-de-obras do governo angolano.
A ascensão e queda da Odebrecht ultrapassa o escopo da diplomacia brasileira, uma vez que, durante a sua hegemonia, a empresa era a ponte através da qual os governos brasileiros entravam em Angola, e não o contrário. O seu império deve ser compreendido como um episódio da relação entre Estado e capital privado nos dois lados do Atlântico Sul.
Afinal, é impossível ignorar o paralelo histórico entre a Odebrecht e outras companhias que, à imagem da empresa negreira setecentista Companhia de Pernambuco e Paraíba e da novecentista Diamantes de Angola, desenvolveram uma relação predatória e simbiótica com o Estado. Atualmente matéria-prima de promotores e juízes, a história da Odebrecht em Angola terminará na mesa dos cientistas políticos.
É cientista politico e doutor pela Universidade de Oxford. Escreve às segundas, a cada duas semanas, sobre política europeia e africana.
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