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    Mathias Alencastro

    PSDB: lições da centro-direita europeia

    13/11/2017 02h00

    Depois da crise financeira de 2008, muito se falou de uma ameaça que pairava sobre a politica europeia: a falência dos principais partidos de centro-esquerda.

    Deste então, o campo progressista tem procurado se reinventar por diferentes caminhos: a frente ampla portuguesa, a guinada radical dos trabalhistas britânicos sob Jeremy Corbyn e a gradual substituição de partidos com um aparato mais tradicional por novos movimentos, mais horizontais e dinâmicos, como o espanhol Podemos e a França Insubmissa.

    Agora, o risco de obsolescência foi transferido para a porta ao lado. São os partidos de centro-direita que se encontram em uma espiral descendente. Essa ideia pode parecer absurda, tendo em conta que especialistas antecipavam uma vasta maré conservadora até pouco tempo atrás. Porém a direita republicana tem se mostrado incapaz de lidar com três problemas fundamentais.

    O primeiro é a dificuldade em aceitar que a emergência de lideranças como Emmanuel Macron não são uma anomalia, mas uma mudança de paradigma que altera o sistema político-partidário tal como conhecemos. Com efeito, Macron, que despontou na política quando era membro do Partido Socialista Francês, deu espaço no governo para os principais quadros conservadores, que arrastaram consigo o seu eleitorado tradicional.

    O segundo problema é que o vazio ideológico não era tão visível quando o papel do centro-direita se resumia a substituir o centro-esquerda no habitual sistema de rotação das democracias representativas, sem grandes diferenças de programa ou de prioridade. Dentro do novo paradigma, o centro-direita só se destaca pelo seu anseio em ir além nas medidas de austeridade impostas pela União Europeia.

    O terceiro problema é o mais perigoso. Os líderes de centro-direita se recusam a assumir responsabilidade pela ascensão dos candidatos populistas-nacionalistas. Antes pelo contrário: eles continuam tentando incorporar nos seus programas o ideário da extrema-direita.

    François Fillon, candidato de centro-direita contra Emmanuel Macron nas presidenciais francesas, deu destaque ao grupo ultraconservador Senso Comum numa tentativa desesperada de desviar o foco das acusações de corrupção. Por conseguinte, os eleitores dividiram os seus votos entre Marine Le Pen, a rival de extrema-direita, e Emmanuel Macron. Uma humilhação histórica para o partido de Fillon, que se estimava o detentor natural do poder na França.

    No Brasil, os dirigentes do PSDB optaram por apoiar Aécio Neves, que está disposto a prejudicar o partido para atingir os seus objetivos pessoais. Uma solução menos dolorosa do que o enfrentamento das causas estruturais da decadência do partido. Mas potencialmente muito mais grave: o PSDB não só corre o risco de ser ultrapassado pelo centro, como também de perder o seu eleitorado para os extremos.

    Se o PSDB acabar como cabo eleitoral de Jair Bolsonaro em 2018, os seus dirigentes serão lembrados como os sabotadores da direita republicana.

    Pedro Ladeira/Folhapress
    O senador Aécio Neves (MG), presidente afastado do PSDB, fala com a imprensa após destituir o senador Tasso Jereissati (CE) da presidência interina do partido
    O senador Aécio Neves (MG), presidente afastado do PSDB, fala com a imprensa após destituir o senador Tasso Jereissati (CE) da presidência interina do partido
    mathias alencastro

    É cientista politico e doutor pela Universidade de Oxford. Escreve às segundas, a cada duas semanas, sobre política europeia e africana.

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