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    Matias Spektor

    Política externa de Aécio

    05/02/2014 03h20

    Aécio Neves começou a falar de política externa.

    Durante os próximos nove meses, o senador terá farto material para marcar posição própria, atacando a diplomacia de Dilma e apresentando ao eleitor seu projeto alternativo.

    Às vésperas do lançamento oficial da campanha, ele tem de decidir como proceder.

    O caminho mais fácil é manter a linha que o tucanato emprega há dez anos, denunciando a diplomacia do PT como anacrônica, protecionista e de inclinação bolivariana.

    Exemplo dessa estratégia é o documento que o PSDB soltou em dezembro, onde se afirma que o Mercosul "precisa voltar a ser o que era", como se a volta no tempo fosse plausível ou desejável.

    No entanto, Aécio não precisa ficar refém dos chavões herdados.

    Ele pode rejeitar a pressão dos correligionários para transformar sua plataforma de política externa em manifesto anti-Lula, oferecendo aos brasileiros uma agenda internacional verdadeiramente pós-lulista.

    Embalado por essa visão, Aécio diria que Lula e FHC trouxeram fabulosos ganhos de posição no mundo, que o governo Dilma ora dilapida a passo acelerado.

    O programa tucano mostraria que, em organismos internacionais, a agenda progressista do governo convive com o atraso: basta consultar o histórico de votos em temas como direitos humanos e trabalhistas, que afetam em cheio a vida do brasileiro comum.

    Imagine só se o candidato tucano listasse as dez atitudes da diplomacia deste governo que mais atrapalham a vida dos 200 milhões.

    O candidato seguiria seu instinto, como o fez outro dia na TV, rejeitando a cantilena, comum em sua sigla, segundo a qual o financiamento a Cuba seria esquerdismo míope.

    Ele repetiria em alto e bom tom que o Brasil participará ativamente da abertura cubana, com contas transparentes e de olho no interesse dos cidadãos brasileiros e cubanos. Idem para o Mais Médicos.

    Esse Aécio afirmaria seu compromisso com uma política pujante na África, sem deixar embaixadas inoperantes (muito menos desamparadas na hora de uma evacuação, como ocorreu no Mali).

    Ele diria que seu Itamaraty terá um comitê de gestão de crises para responder aos alertas insistentes de nossos diplomatas –estejam eles a cargo da vida de um senador boliviano ou não.

    Acima de tudo, esse Aécio rejeitaria logo de cara duas noções falaciosas que tanto empobrecem nossa conversa pública.

    A primeira diz que um governo tucano só olharia para Europa e Estados Unidos.

    A afirmativa é balela, mas, no calor da campanha, o risco de a candidatura cair nessa arapuca boba é real.

    A segunda falácia diz que um governo tucano abandonaria a América do Sul.

    Imagine o candidato explicando sua visão da integração regional num longo dia de campanha que começa com um café da manhã junto ao chavismo, em Caracas, e termina em um jantar com o governo de direita em Bogotá.

    matias spektor

    É doutor pela Universidade de Oxford e ensina relações internacionais na FGV. Escreve às quintas.

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