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    Matias Spektor

    A estratégia Temer

    31/03/2016 02h00

    O desembarque do PMDB coroou a primeira fase da estratégia que Michel Temer implementa há quatro meses. Da carta a Dilma até agora, seu plano tem sido executado com precisão.

    A próxima fase consiste em instaurar o processo do impeachment na Câmara, afastando Dilma do cargo durante os meses de julgamento no Senado.

    Nessa fase, Temer enfrentará o desafio de todo vice que ascende ao posto principal: a necessidade de acumular poder suficiente para exercer a presidência com legitimidade inconteste. Esse é o momento no qual o projeto demandará uma iniciativa internacional.

    Primeiro, virá a busca por apoio no exterior. Trata-se de uma operação diplomática simples, que inclui a celebração de um punhado de encontros bem coreografados com outros chefes de governo.

    Na sequência, um passo mais difícil: a transformação do novo presidente em protagonista principal de uma agenda de reformas capazes de recuperar o apoio da opinião pública.

    A arma para essa batalha é a "Ponte para o futuro", o plano para varrer a Nova Matriz Econômica do mapa. Bem embalado para consumo externo, o texto pode ajudar a reverter as expectativas internacionais a respeito Brasil, com impacto palpável sobre a economia real. Com PT, sindicatos e movimentos sociais na oposição, esse apoio vindo de fora vale ouro.

    Temer também tem um novo documento sobre política social prestes a sair do forno. Propõe-se ali uma nova geração de intervenções para melhorar e expandir os programas existentes. Desta vez, a ênfase está na eficiência do gasto público, única forma de garantir redistribuição de renda num cenário econômico adverso. O documento busca tirar do PT a imagem de fiador exclusivo do combate à pobreza e à desigualdade. Faz isso alinhando o Brasil às melhores práticas internacionais na matéria.

    Por fim, um governo Temer terá de reconciliar a tentação de abafar a Lava Jato às expectativas da opinião pública e de seus interlocutores mundo fora. O espaço de manobra será pequeno, vide os dois milhões de assinaturas que embalam as "Dez Medidas de Combate à Corrupção" da força-tarefa de Curitiba.

    Mas a experiência de terceiros países é ilustrativa. Seria possível usar esses novos instrumentos legais como alavanca para pôr as empreiteiras pós-delação de pé e criar um novo modelo para a Petrobras. Juntas, essas medidas impulsariam o governo para a frente.

    É impossível saber se Temer chegará lá. Sabe-se que ele pensa o longo prazo. E que no melhor cenário, ele será personagem central da saga de 2018, apresentando-se como um candidato ou não.

    matias spektor

    É doutor pela Universidade de Oxford e ensina relações internacionais na FGV. Escreve às quintas.

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