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    Matias Spektor

    O risco Temer

    28/04/2016 02h00

    Quando o risco-país explodiu pela combinação de dívida pública e política fiscal, o Brasil perdeu o grau de investimento. Nos próximos dias, quando Dilma cair, investidores estrangeiros precificarão o risco geopolítico representado pela corrupção.

    A roubalheira endêmica não é nova para quem vem fazer negócio no país. O Brasil sempre foi visto como um destino difícil para quem pretende fazer grandes negócios sem manusear envelopes pardos.

    A diferença agora é que o xilindró passa a ser uma realidade para o magano que paga propinas e para o político que as recebe. Enquanto a crise econômica durar, suspeitas de corrupção também serão ameaça constante ao investidor que depende do manto protetor de políticos profissionais.

    Esta nova realidade do risco-Brasil cria um problema para Temer, pois aumenta os custos do programa de concessões que ele pretende usar como alavanca para recuperar a economia.

    Não à toa, o vice prepara a maior reforma do ambiente regulatório dos últimos 20 anos. Haverá um órgão dedicado a tocar as concessões, assim como auditorias das contas dos bancos públicos. Haverá novas regras de governança de estatais e de fundos de pensão, com novas medidas de transparência e de blindagem de cotistas (contra o uso político dos recursos). A esse pacote soma-se um esforço de propaganda para desfazer a ideia de que há um plano para asfixiar a Lava Jato.

    É uma agenda ambiciosa e com futuro incerto. Afinal, o vice e outras personagens de seu círculo mais íntimo amargam numerosas acusações de corrupção, e podem aparecer em delações adicionais nos próximos meses. Aos olhos do investidor, a situação legal do vice também pode afetar o risco-país.

    Diante do problema, Temer tem duas saídas complementares. Uma delas é técnica: a aplicação das novas metodologias inventadas em terceiros países para mensurar, monitorar e mitigar o risco-corrupção. Seu mero uso mandaria um sinal poderoso para o exterior.

    A outra saída está no campo da diplomacia. Ela envolve fazer na área de corrupção a mesma coisa que já se fez na área de governança da internet: pôr o Brasil na fronteira do debate global sobre o assunto.

    Receita Federal, Fazenda e Ministério Público já têm coisa para mostrar. O BNDES sob nova presidência e as agências reguladoras turbinadas terão em breve. Se Dilma montou com Obama um programa de "Governo Aberto", Temer poderá correr atrás de cooperação externa ampla para um "Governo Limpo". Trata-se de reverter os danos do petrolão.

    Você acha hipócrita Temer se apresentar como liderança mundial da luta contra a corrupção? Imagine as alternativas.

    matias spektor

    É doutor pela Universidade de Oxford e ensina relações internacionais na FGV. Escreve às quintas.

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