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    Matias Spektor

    Temer faz a América

    09/06/2016 02h00

    Michel Temer despacha agora seu novo embaixador para os Estados Unidos. O emissário terá mais espaço em Washington que qualquer antecessor nos últimos anos.

    Isso porque a guinada em nossa política econômica é esperada com ânsia em Wall Street e no Tesouro americano. Além do mais, a Lava Jato é vista como um programa de combate à corrupção que deixa no chinelo países como Índia, México e Turquia, aos quais o Brasil é sempre comparado.

    O embaixador de Temer ainda poderá anunciar avanços com os americanos que foram negociados por Dilma, mas ficaram represados pela crise que levou ao afastamento da presidente.
    Três merecem destaque.

    O acordo de "céus abertos" libera as rotas aéreas de ambos os países para empresas brasileiras e americanas. Quando implementado, reduzirá o custo de viagens de avião para milhões de brasileiros. Dilma negociou e assinou o acordo, mas não o enviou ao Congresso porque a Azul convenceu sua Casa Civil a pôr o pé no freio, com medo da competição. Latam e Gol querem o acordo. Basta agora Temer avançar.

    Dilma também assinou o Global Entry, programa que facilita negócios nos dois países por meio de um chip instalado nos passaportes de seus empresários. As máquinas de leitura já estão instaladas em Guarulhos, mas a burocracia do lado brasileiro empacou. Basta uma reunião entre Itamaraty, Receita e Polícia Federal para implementar o novo esquema.

    Dilma ainda negociou um mecanismo para acelerar a concessão de patentes, procedimento que pode demorar até dez anos para o empresário brasileiro. A batalha da presidente não foi contra os americanos, mas contra a Anvisa, cuja resistência na matéria é estapafúrdia. Hoje existe um piloto em andamento na área de petróleo. Basta o Itamaraty abrir o acordo para as indústrias química, eletrônica e farmacêutica, gesto simples com enorme impacto comercial e industrial.

    Se resolvidas, essas pendências vão criar um ambiente propício para que o governo brasileiro possa preparar o terreno para lidar com o sucessor ou sucessora do presidente Obama, a partir de janeiro próximo.

    Nada disso funcionará direito, porém, se o Planalto não equacionar seu problema de fundo com os Estados Unidos: a notável defasagem da diplomacia brasileira na capital americana.

    Não se trata de falta de dinheiro ou gente. Pelo contrário, a embaixada brasileira em Washington tem recursos e funcionários excelentes. São as velhas estratégias e modos de atuação que caducaram.

    O resultado? O Brasil tem menos influência hoje naquela cidade que países menores e mais fracos. Esse será o tema da próxima semana.

    matias spektor

    É doutor pela Universidade de Oxford e ensina relações internacionais na FGV. Escreve às quintas.

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