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    Matias Spektor

    Embaixada em Washington

    16/06/2016 02h00

    Temer nomeou Sergio Amaral embaixador perante os Estados Unidos. Seu objetivo é reverter o descrédito brasileiro na comunidade internacional.

    O embaixador terá a árdua tarefa de vender esperança no momento mais adverso do país. Mas seu maior obstáculo será de natureza prática: a diplomacia brasileira não conta com os instrumentos necessários para operar bem na capital americana.

    O problema não é de hoje e pode ser sintetizado assim: a embaixada brasileira em Washington concentra seu trabalho na interlocução com o Executivo americano. O diálogo com o Congresso e com as Forças Armadas, dois centros de poder cruciais, é esporádico. O contato com os governadores americanos é irregular (eles têm força junto às bancadas estaduais no Legislativo, que vota as matérias de interesse do Brasil). Às vezes falta dinheiro para o embaixador pegar um voo para visitar um governador.

    A embaixada tampouco mobiliza nem tira proveito da comunidade brasileira residente nos Estados Unidos. Trata-se de mais de um milhão de pessoas com influência crescente e cada vez mais direito ao voto. Embaixadas de outros países instrumentalizam suas respectivas diásporas com enorme efeito positivo, coisa que jamais fizemos.

    Ainda é comum o embaixador brasileiro chegar aos restaurantes e clubes exclusivos de Washington sem reconhecer ou ser reconhecido por deputados e senadores, jornalistas e advogados de escritórios de lobby. Essa é a gente que faz a cidade rodar. Esse é o grupo de pessoas que Colômbia, México, Índia, Polônia e Turquia acionam quando precisam resolver problemas junto ao governo americano.

    Para nós, tais canais são inexistentes. Com acesso restrito a quem abre portas, o embaixador do Brasil em Washington tende a ser carta fora do baralho.

    O Itamaraty tem uns 20 diplomatas lotados em Washington, mas poucos têm autorização para fazer contato direto com contrapartes americanas. Muitos redigem telegramas que, chegando em Brasília, jamais são respondidos. Alguns ainda fazem uma síntese de notícias de jornal, velha prática da era pré-internet.

    Há exceções, claro. Já tivemos embaixadores que entendiam a cidade e sabiam operá-la. Nos últimos tempos, a embaixada trouxe congressistas ao Brasil e montou parceria com o CSIS, influente "think-tank" da capital. Mas essas iniciativas são intermitentes, não uma política regular.

    O resultado é que, naquela capital, o Brasil termina sendo o mais negligenciado dos países emergentes.

    Isso afeta a maioria dos brasileiros porque, goste-se ou não, sempre que uma grave crise assola o Brasil, é em Washington que o Planalto busca mais ajuda. E a história mostra que é lá que mais a encontra.

    matias spektor

    É doutor pela Universidade de Oxford e ensina relações internacionais na FGV. Escreve às quintas.

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