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    Matias Spektor

    Eleição de Trump abre um ciclo assustador que precisa ser rebatido

    10/11/2016 02h00

    Mike Segar/Reuters
    U.S. President-elect Donald Trump and his running mate Mike Pence address their election night rally in Manhattan, New York, U.S., November 9, 2016.
    O presidente eleito dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump

    Numa só tacada, Donald Trump ganhou a Casa Branca e o Congresso americano. Sua hegemonia chegará também à Corte Suprema.

    Vestido com o manto da legitimidade popular, ele expurgará de seu partido aquelas figuras que lhe obstruem o caminho e, feito o realinhamento, terá força sem igual.

    Faltando três meses para sua posse, é inócuo tentar adivinhar como ele pretende operar nas relações internacionais, pois sua campanha recusou-se a discutir propostas concretas. O candidato preferiu o exagero e o escárnio, a confusão propositada e a mentira.

    Seja como for, a mensagem que sai das urnas é clara: voltou a existir espaço em grandes democracias para propostas hostis a ideais básicos de decência e de compromisso com a verdade.

    Velhos temas como racismo e xenofobia voltam à ordem do dia, num ciclo que promete ser assustador.

    O problema não começa nem termina com Trump. Reino Unido, França e Hungria atravessam processos que, embora diferentes entre si, bebem da mesma fonte.

    Nesse cenário, portanto, a pergunta relevante para a sociedade brasileira não é sobre o possível impacto econômico e diplomático do governo Trump para o Brasil. Trata-se de algo mais profundo: o que deveríamos fazer para impedir que o mundo avance numa direção que não nos convém?

    Consumido por seu próprio drama, o Brasil não tem lideranças políticas para comandar uma empreitada dessa natureza. Não serão Temer, Marina, Ciro, Alckmin ou Bolsonaro a conceber uma postura talhada para lidar com o mundo que ora se desenha.

    Mas a batalha já está colocada. Um grupo de juristas, por exemplo, sugeriu a Trump revogar a primeira medida presidencial assinada por Obama: a proibição do uso da tortura por parte das Forças Armadas e dos serviços de inteligência americanos.

    Para esses juristas, urge retomar o afogamento de detentos e outras técnicas de interrogação, em nome da luta contra o Estado Islâmico. Essa turma também tem outras ideias próprias sobre imigração, mudança do clima e comércio internacional que tampouco resistem ao menor escrutínio.

    São esses os temas que definirão a sociedade internacional que o Brasil terá de operar se quiser sair do atoleiro em que está. Por isso, resta torcer para que a eleição de Trump provoque a efervescência intelectual sem a qual estaremos perdidos.

    Algo similar ocorre mundo afora. Em todas as grandes democracias, a eleição de Trump gera uma poderosa demanda por ideias, explicações e propostas a respeito do que fazer. Esta é a hora de dar um passo atrás e repensar.

    O que está em jogo é valioso demais.

    matias spektor

    É doutor pela Universidade de Oxford e ensina relações internacionais na FGV. Escreve às quintas.

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