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Colunistas
Thursday, 02-May-2024 19:47:54 -03Matias Spektor
Elite brasileira perde o rumo quando a sociedade mais precisa dela
01/12/2016 02h00
A onda global de nacionalismo populista que hoje ameaça o mundo livre se alimenta de um fenômeno comum: o sentimento de revolta contra as elites e a incapacidade delas de acompanhar as transformações sociais que afetam o cidadão comum.
Este ano, essa raiva latente contra as altas rodas encontrou expressão em sociedades abertas como França, Grã-Bretanha e EUA por meio de movimentos antiliberais, há pouco tempo inconcebíveis. O resultado é a vitória do preconceito e de novas formas de autoritarismo.
No Brasil, desde 2013, o sentimento de revolta contra as elites dá o tom. Nos últimos dias, tivemos a invasão do Parlamento por extremistas de direita e agressões físicas contra jornalistas por manifestantes de esquerda. Tais grupos, minoritários e patéticos, não mereceriam atenção em condições normais. Acontece que as condições atuais são anormais.
E o problema é que a elite encontra-se acuada, sem condições de cumprir sua função básica: apontar rumos para a sociedade.
Falar mal da elite é um esporte nacional, mas vale notar que, durante os últimos 30 anos, ela democratizou o país, estabilizou a economia e criou as bases para reverter a trajetória vergonhosa de nossa pobreza e desigualdade.
Quem faz parte dessa elite? Os grupos que chegaram ao poder com Lula e FHC, os homens de negócios que internacionalizaram o capitalismo brasileiro na era da globalização e os formadores de opinião — jornalistas, artistas e intelectuais — que chegaram à maturidade profissional depois da redemocratização.
Hoje, esses grupos perderam o rumo. A classe política luta para sobreviver à Lava Jato, alimentando um confronto aberto entre Legislativo e Judiciário péssimo para a democracia.
O principal partido de esquerda está em processo de implosão e as delações vindouras prometem arrebentar outras agremiações tradicionais. O grande capital defende um ajuste que, mesmo dando certo, levará anos para trazer resultados concretos para o cidadão comum. Enquanto isso, o crime organizado e a violência urbana avançam a passos acelerados, carcomendo a confiança do público nas instituições nacionais.
Tudo isso é preocupante porque a democracia brasileira não está plenamente consolidada. É plausível assistirmos à chegada de candidatos neopopulistas de esquerda ou de direita que, vindos de fora do sistema, acusam-no de ser ilegítimo.
A elite brasileira precisa se reconectar com a população se quiser impedir a ascensão de aventureiros. Uma operação dessa natureza demandará intensa atividade internacional.
Nas próximas quatro semanas, até a virada do ano, dedicarei a coluna a discutir a natureza dos desafios que essa elite precisa atravessar para recuperar sua responsabilidade social.
É doutor pela Universidade de Oxford e ensina relações internacionais na FGV. Escreve às quintas.
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