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    Matias Spektor

    De olho em base eleitoral, Trump promete política externa revisionista

    19/01/2017 02h00

    Evan Vucci - 17.jan.2017/Associated Press
    President-elect Donald Trump speaks during the presidential inaugural Chairman's Global Dinner, Tuesday, Jan. 17, 2017, in Washington. (AP Photo/Evan Vucci) ORG XMIT: DCEV113
    Donald Trump em jantar em Washington nesta terça-feira (17)

    Donald Trump fez campanha prometendo dar um cavalo de pau na economia e na política dos Estados Unidos. A partir desta sexta (20), ele tentará honrar a promessa, entregando resultados à coalizão que o elegeu.

    Como a eleição deixou o país dividido, ele tem incentivo para tomar medidas rápidas que lhe permitam tomar as rédeas e ancorar expectativas.

    Por esse motivo, sua política externa terá um talho inquestionavelmente reformista. Quando o assunto é geopolítica, o jogo de mudança acontece em três tabuleiros: China, Rússia e Europa.

    Trump promete endurecer com Pequim, competidor estratégico principal. Ninguém sabe ao certo qual será o primeiro grande teste desse relacionamento, mas a Coreia do Norte é uma boa candidata.

    Ele ainda buscará aproximar-se de Moscou, cuja parceria vê como essencial para combater o Estado Islâmico e conter a implosão da Síria.

    Em relação à Europa, Trump quer redução de custos: em sua visão, a União Europeia é um experimento fracassado que só sobreviveu graças à generosa subvenção do contribuinte americano. Por isso, a saída do Reino Unido do grupo foi para ele um motivo de celebração.

    Em questões de economia internacional, Trump dará vazão às forças protecionistas que o elegeram, mesmo que isso onere o resto do eleitorado e boa parte dos agentes econômicos americanos mais competitivos. Ao que tudo indica, ele escolherá a dedo os principais ganhadores e perdedores, uma versão gringa do "capitalismo de compadrio".

    Não é a primeira vez que um presidente americano sacrifica a economia internacional no altar de sua base eleitoral. Em 1971, Richard Nixon abandonou os parâmetros multilaterais das finanças globais sem consultar ninguém e de olho na obtenção de fôlego momentâneo para a economia americana, às vésperas de uma eleição. Quem pagou o pato foi o resto do planeta.

    Para quem defende Trump, esse revisionismo ajudará a livrar os Estados Unidos do fardo financeiro e político de ser fiador da estabilidade internacional. Para os detratores do presidente, a ruptura que vem aí será implementada com a obstinação cega de um corretor de imóveis e com a leviandade de uma celebridade de televisão. Mal concebida e atabalhoada, essa abordagem não teria como dar certo.

    Dar certo ou não, porém, não é a questão. Afinal, o êxito e o fracasso das iniciativas internacionais de um presidente americano dependem de fatores complexos que ele não controla.

    A questão que se coloca é outra: quando uma grande potência entra em rota revisionista, deixa de funcionar como âncora de todo o sistema internacional. O resultado? Mais instabilidade para todos.

    matias spektor

    É doutor pela Universidade de Oxford e ensina relações internacionais na FGV. Escreve às quintas.

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