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    Matias Spektor

    Trump forçará governo e setor privado do Brasil a somar forças nos EUA

    09/02/2017 02h00 - Atualizado às 00h06
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    Carlos Barria/Reuters
    O presidente dos EUA, Donald Trump, concede entrevista durante visita à base da Força Aérea de MacDill, em Tampa, na Flórida
    O presidente dos EUA, Donald Trump, durante visita à base da Força Aérea de MacDill, na Flórida

    "Não é bom estar no radar dos Estados Unidos", diziam Lula e FHC. Com Trump, a frase ganhou valor dobrado: quem se expõe demais corre o risco de levar uma tungada, como aprenderam nas últimas semanas Alemanha, Austrália e México.

    A lição para o Brasil é clara. No entanto, seria um equívoco esconder a cabeça de baixo d'água até Trump passar. Isso porque as decisões do novo presidente —e seus efeitos no setor privado americano— têm impacto direto sobre o ciclo econômico brasileiro.

    O desafio brasileiro é desenvolver um modelo de relacionamento com a Casa Branca que permita manter o perfil baixo (evitando choques) e, ao mesmo tempo, atuar com vigor nos bastidores para destravar comércio e investimentos.

    O palco ideal para esse trabalho é o Congresso. Com as duas casas sob controle do partido Republicano, ali será travada a luta pela definição do ambiente de negócios dos Estados Unidos.

    Para influenciar de alguma forma esse processo, o Brasil precisará fazer trabalho paciente de formiga. Afinal, os 500 parlamentares americanos trabalham com mais de mil conselhos dedicados a influenciá-los, 11 mil lobistas registrados e 63 mil associações empresariais.

    A sorte é que as multinacionais brasileiras operam em 150 dos 435 distritos eleitorais americanos. Como essas empresas geram 72 mil empregos diretos, a maioria na área industrial, há espaço para o jogo.

    Para exercer alguma influência no ambiente parlamentar americano, porém, será necessário atentar para as regras básicas sem as quais o Brasil dará com os burros n'água.

    Nunca é bom que as iniciativas sejam lideradas por empresas brasileiras ou pelo governo do Brasil. A chave para destravar o problema é montar coalizões com grupos americanos que possuam interesses paralelos ou idênticos, e que possam abraçar a agenda como sua.

    Por esse motivo, o trabalho de representação diplomática tradicional não funciona junto ao Congresso americano. A busca por influência demanda muita sola de sapato nos comitês relevantes, identificando riscos, buscando aliados americanos e usando as redes sociais com inteligência. O movimento ocorre na capital e nos distritos eleitorais, nos ambientes oficiais e informais.

    Daí a importância de instituições como o Brazil Industries Coalition (BIC), entidade do setor privado brasileiro com registro legal para fazer lobby em Washington. Prestes a abrir sua nova sede a três quarteirões da Casa Branca, o BIC consegue operar sem expor o Palácio do Planalto.

    Há tempos os setores público e privado do Brasil precisam trabalhar juntos para alavancar seus interesses mútuos junto ao Congresso americano. Trump reforçou a urgência de fazê-lo.

    matias spektor

    É doutor pela Universidade de Oxford e ensina relações internacionais na FGV. Escreve às quintas.

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