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    Matias Spektor

    Washington se prepara para a corrida presidencial brasileira

    05/10/2017 02h00

    J. David Ake/Associated Press
    BRASILIA, DF, BRASIL, 09-08-2017, 16h00: O governador de SP Geraldo Alckmin é recebido pelo presidente do senado Eunício Oliveira (PMDB-CE), em reunião no gabinete da presidência do senado. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)SAO PAULO, SP, BRASIL, 10.08.17 20h30 Joao Doria. Athie Wohnrath, lanca seu terceiro, seguido de debate com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o cineasta e escritor Arnaldo Jabor e o jornalista Carlos Sardenberg.(Foto: Marcus Leoni / Folhapress, MONICA BERGAMO)Former Brazilian president (2003-2011) Luiz Inacio Lula Da Silva holds a sign reading "No to Lula's sentence" during a rally at the metalworkers union of Diadema, in Sao Paulo, Brazil, July 15, 2017. Brazil's former leader Luiz Inacio Lula da Silva on Thursday defiantly brushed aside his conviction on corruption charges and said he plans to run again for president next year. Lula's sentence to nine-and-a-half year was handed down Wednesday by an anti-corruption judge who found him guilty of taking bribes and money-laundering. / AFP PHOTO / Miguel SCHINCARIOL
    O Capitólio, em Washington, nos Estados Unidos

    Quem lida com o Brasil em Washington faz parte de um círculo pequeno, mas com grande impacto sobre o nosso ciclo eleitoral: a simpatia do establishment americano facilita ou dificulta as chances de qualquer candidatura presidencial. Isso ocorre porque o tom utilizado naquela capital a respeito dos candidatos à Presidência da República molda as expectativas do mercado e este, por sua vez, afeta as preferências do eleitor. Não à toa, todos os presidentes do ciclo democrático buscaram operar em Washington durante os longos meses de campanha.

    Agora, pela primeira vez em mais de um ano, a leitura daquela cidade sobre a crise brasileira ganha contorno claro.

    Temer, por exemplo, virou tóxico. A imagem das malas de Geddel e as pesquisas de opinião contaminaram de vez a conversa sobre o Brasil no Executivo e no Legislativo. Ninguém acha que o presidente vá cair e, no Tesouro e em Wall Street, há otimismo a respeito das reformas econômicas. Mas corre solta a fofoca segundo a qual investidores estrangeiros interessados nas novas privatizações continuam sendo acossados por membros da classe política brasileira em busca de vantagens indevidas.

    O PSDB já perdeu a reputação amealhada. Aécio é motivo de chacota e, na semana passada, quando FHC esteve na cidade para repetir que as instituições brasileiras "estão funcionando", a mensagem foi recebida com doses volumosas de sarcasmo, pois a tese não para em pé. Geraldo Alckmin continua desconhecido, apesar da relevância de São Paulo nos bancos de fomento sediados naquela capital. E todos querem saber se ele está envolvido na Lava Jato.

    Menções a Lula sempre vêm acompanhadas de perguntas sobre suas chances de prisão. Também cresce a analogia entre ele e Lopez Obrador, candidato mexicano à Presidência que selou reputação em Washington como desvairado e irresponsável.

    Quem mais gera curiosidade neste momento é Doria. Numa cidade sedenta por identificar uma liderança com a qual o establishment americano possa fazer negócio, o prefeito nada de braçada. Isso poderá acabar de súbito, caso apareça outra personalidade capaz de se comunicar bem naquele ambiente.

    A incógnita é Bolsonaro. Prestes a embarcar em sua primeira missão a Washington, o deputado é novidade exótica no mapa eleitoral. Em que pesem suas condenações na Justiça por apologia ao estupro e declarações racistas e homofóbicas, ele encontrará uma cidade aberta ao jogo. Mesmo que sua retórica destoe da realidade, ele poderá emplacar uma imagem de conservador cordato, com política econômica ortodoxa e foco em segurança pública. É o tipo de pacote que o establishment gosta de comprar.

    matias spektor

    É doutor pela Universidade de Oxford e ensina relações internacionais na FGV. Escreve às quintas.

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