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    Maurício Stycer

    Nossos comerciais, por favor

    DE SÃO PAULO

    20/01/2013 03h02

    Espécie de usina criadora de músicas de sucesso, Lulu Santos mostrou que seus talentos vão além e alcançam também a televisão. Além de dominar a cena como jurado do show de talentos "The Voice Brasil", tornou pública uma interessante reflexão que os executivos do meio só costumam fazer em privado ou na mídia especializada.

    "O programa acaba revitalizando o uso da televisão porque, com a história do HD, pelo menos uma parte da população pode não assistir à programação no horário em que passa e gravar para ver depois. Aí não vê o anunciante. Por isso, para o anunciante, a televisão acabou ficando questionável", disse a Thales de Menezes, aqui na Folha.

    Lulu conclui explicando por que atrações como "The Voice", que promovem interação com o espectador, agradam tanto ao mercado publicitário: "Programa ao vivo que tem votação e solicita retorno do público tem que ser assistido na hora, para que se possa participar dele".

    A ideia de que o reality show é o último bastião da televisão tal qual a conhecemos deve ter sido ouvida por Lulu de algum diretor do programa. Mas, ainda que simplifique exageradamente a questão, expõe de fato um dilema cada vez mais atual: como manter o espectador preso diante do aparelho de TV, assistindo à programação na ordem e no horário propostos pelas emissoras?

    Já não basta, como fazia Flávio Cavalcanti no tempo da TV a lenha, estalar os dedos e pedir: "Nossos comerciais, por favor".

    Pode ser apenas coincidência, mas nesta semana, pela primeira vez, que eu me lembre, o "Big Brother Brasil" interrompeu no meio uma votação dos participantes para exibição de um bloco de publicidade. O reality show, em sua 13ª edição, está sob os cuidados da mesma equipe que produziu o "The Voice".

    O momento em que os candidatos do "BBB" votam só rivaliza, em matéria de clímax, com o anúncio da eliminação semanal. Promover uma pausa para exibição de comerciais é um recurso péssimo, do ponto de vista da dinâmica do programa, mas faz sentido sob a óptica dos anunciantes e patrocinadores.

    Menos preocupada com essas "sutilezas", a Record sempre interrompe as votações que ocorrem no seu reality, "A Fazenda", para a exibição de longos blocos comerciais.

    Além do HD, várias outras ferramentas colocam em questão, de fato, o modelo de "grade" de programação. É cada vez mais fácil ver os programas diante do computador ou no smartphone, seja comprando ou baixando arquivos piratas na internet.

    Como aproximar-se desse público consumidor on-line? A Globo está se movimentando bastante nesse terreno. Em "Cheias de Charme", exibida em 2012, um clipe musical produzido pelas protagonistas da trama "vazou" na internet antes da hora. No exato instante em que esse "vazamento" ocorria na novela, o site da emissora colocou o clipe à disposição dos espectadores. Bombou, como se diz.

    Há uma semana, o site da emissora informou que a protagonista da novela "Salve Jorge" iria dar uma surra numa das vilãs da trama e convidou o público a votar em qual golpe ela deveria usar na cena, ainda a ser gravada.

    O ridículo desta proposta mostra que ainda estamos engatinhando em matéria de interação, mas este é um caminho sem volta no esforço de reinvenção da TV.

    mauricio stycer

    É jornalista, repórter e crítico e autor de 'Adeus, Controle Remoto'.
    Escreve aos domingos.

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