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    Maurício Stycer

    O futuro do folhetim

    20/07/2014 02h00

    Diversos autores da Globo defendem publicamente, já há anos, que as novelas deveriam ser mais curtas. O tema, porém, ainda não prosperou dentro da emissora. Além da questão do hábito, há razões econômicas para isso -devido ao alto custo, as produções precisam ficar no ar por um bom tempo para se pagar e dar lucro.

    No caso das novelas das 21h, o principal produto da Globo, a questão é ainda mais delicada. A duração dos folhetins neste horário tem variado em função das estratégias de programação e dos problemas de audiência.

    Comovida com o relativo sucesso de "Amor à Vida", a emissora pediu a Walcyr Carrasco que esticasse a trama. Foram intermináveis 221 capítulos, em vez dos 185 ou 179 das quatro novelas que a antecederam.
    Já "Em Família", encerrada nesta sexta-feira, teve apenas 143 capítulos, o menor número em décadas.

    Com média de 30 pontos, o ibope da novela de Manoel Carlos foi o pior de uma produção deste horário na história. "Salve Jorge", de Gloria Perez, com média de 34, era até então dona deste título.

    A última novela das 21h a ter média superior a 40 pontos foi "A Favorita", de João Emanuel Carneiro, exibida entre 2008 e 2009.

    Quando Aguinaldo Silva apresentou sua "Fina Estampa", em 2011, a meta principal do autor era recolocar a novela das 21h no patamar dos 40 pontos. Não conseguiu, mas chegou perto.

    Depois de três produções ("Insensato Coração", "Passione" e "Viver a Vida") com audiência média entre 35 e 36 pontos, "Fina Estampa" alcançou uma média de 39 pontos.

    Convém lembrar que nem "Avenida Brasil", a novela que mais repercutiu e agradou a crítica em muito tempo, alcançou a audiência de "Fina Estampa".

    A cada bom resultado alcançado no Ibope, Aguinaldo Silva entrava no Twitter para festejar. "FOM FOM!!!", escrevia, em tom de fanfarra. Não espanta que justamente ele tenha sido convocado para socorrer a Globo neste momento em que a novela das 21h atingiu seu mais baixo patamar.

    "Império" chega com a dura missão de mostrar que o modelo de novela das 21h não está esgotado. Para além das diferenças de estilo, Aguinaldo Silva parece ter um talento que Manoel Carlos não mostrou: farto pragmatismo e jogo de cintura.

    Numa entrevista recente ao "Estadão", o autor de "Em Família" foi questionado se reconhece algum erro em seu trabalho mais recente: "Não errei especificamente nesta novela. Fiz do jeito que fiz todas as outras, desde 'Maria Maria' há 36 anos", respondeu.

    E, como é comum em situações do gênero, o autor responsabilizou o público por seu fracasso: "Pode ser que os tempos sejam outros e que não haja mais tanto espaço para se conversar nas novelas. Todos têm pressa, telegrafam seus sentimentos".

    Como observei há um mês, o texto bem escrito de "Em Família" foi uma qualidade insuficiente em uma novela com histórias pobres, conflitos pouco convincentes e tramas repetitivas.

    Aguinaldo Silva promete ação e "ritmo alucinante" em "Império". Segundo ele, é isso que "o povo quer e gosta". Se a fórmula não funcionar nesta nova novela, será que a Globo vai, finalmente, se convencer de que este modelo precisa ser revisto?

    mauricio stycer

    É jornalista, repórter e crítico e autor de 'Adeus, Controle Remoto'.
    Escreve aos domingos.

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