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    Maurício Stycer

    Indie TV

    22/11/2015 02h00

    Qualquer balanço sobre a televisão em 2015 precisa levar em conta a maior oferta e a melhora da qualidade da ficção produzida no Brasil para o mercado de TV paga.

    Ainda há vários nós dificultando a inovação, a ousadia e o sucesso neste terreno, mas algumas séries exibidas recentemente mostram caminhos possíveis.

    A experiência do mercado americano indica que as melhores séries dos últimos 15 anos só vieram à luz ao abrir mão da ambição das audiências gigantescas da TV aberta.

    "Se eu tivesse tentado fazer 'Breaking Bad' teria sido demitido", diz o executivo de uma grande rede americana citado por Pamela Douglas no livro "The Future of Television" (US$ 20 no Kindle).

    O caminho tem sido encontrado em canais com modelos de negócios diferentes, como HBO e AMC, baseado em assinaturas, sem publicidade, ou dedicado a nichos, com públicos menores, mas qualificados.

    No Brasil, o rumo está sendo buscado de outra forma. A chamada Lei da TV Paga tem estimulado (ou obrigado) o investimento em séries. A Ancine (Agência Nacional do Cinema), com um fundo setorial, também está ajudando a colocar a indústria em movimento. Esses apoios, porém, não asseguram qualidade.

    O que me parece essencial é uma mudança de mentalidade, seja de quem está criando quanto de quem está produzindo ou exibindo.

    "Zé do Caixão", em exibição no canal Space (sextas, às 22h30), do grupo Turner, é um caso positivo.

    Com Matheus Nachtergaele, a série trata da vida e da carreira de José Mojica Marins, um cineasta "maldito", cult, famoso por seus filmes de terror de baixo orçamento.

    Em seis episódios de 45 minutos, cada um dedicado a um filme de Mojica, a série de Vitor Mafra é claramente dedicada a um público pequeno. Ainda que narrada de forma cronológica, não tem qualquer preocupação com didatismo e mais sugere do que mostra ao reviver a saga do cineasta paulista.

    "Zé do Caixão" me parece um exemplo do que Robert Lloyd, crítico do "Los Angeles Times", chama de "indie TV", ou TV alternativa, que complementa de forma saudável o cardápio da televisão.

    O mesmo pode ser dito de "O Grande Gonzalez", boa comédia de Ian SBF, do grupo Porta dos Fundos, criada para o canal Fox. Em dez episódios de 25 minutos, a série descreve a investigação da morte de um mágico de festa infantil, ocorrida diante de dezenas de crianças.

    Buscando confundir o espectador, cada testemunha do crime relata sua versão misturando fatos e fantasias, dando à trama um tom delirante, que vai se intensificando à medida que se revela como os policiais são igualmente maluquinhos.

    Outra boa série hoje no ar é "Romance Policial: Espinosa", de José Henrique Fonseca, no canal GNT (quintas, às 22h30). Ambientada em Copacabana, com Domingos Montagner no papel do detetive criado por Luiz Alfredo Garcia Roza, é uma produção impecável e cativante.

    Mais didática, com texto menos elaborado e muitos planos desnecessários, não causa, porém, o mesmo impacto que "Zé do Caixão".

    Ainda que na TV paga, a série de Fonseca (em oito episódios de 50 minutos) me parece adotar como referência a Globo, na qual poderia muito bem ser exibida.

    mauricio stycer

    É jornalista, repórter e crítico e autor de 'Adeus, Controle Remoto'.
    Escreve aos domingos.

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