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    Maurício Stycer

    Vox populi

    13/12/2015 02h00

    Lançado Neste ano, o Troféu UOL TV e Famosos promoveu duas votações para escolher os melhores do ano na TV –uma entre os leitores e outra entre cinco jornalistas e críticos especializados. Os resultados não poderiam ter sido mais diferentes.

    Programas e contratados da Record venceram as principais categorias na enquete do público. Alguns exemplos: "Os Dez Mandamentos", com 176 mil votos, foi a melhor novela. Guilherme Winter e Sergio Marone, ambos com 285 mil votos, foram escolhidos os melhores atores por seus papéis na trama bíblica.

    "Batalha dos Confeiteiros", com 50 mil votos, ganhou como melhor reality. Xuxa, com 52 mil votos, a melhor apresentadora. "Legendários", com 33.500 votos, foi considerado o melhor programa de humor. Já Rodrigo Faro, com 47 mil votos, perdeu por muito pouco (cerca de mil votos) o primeiro lugar conquistado por Silvio Santos como melhor apresentador.

    Não tiro o mérito dos fãs, tanto dos programas quanto da emissora, que se mobilizaram para votar em seus favoritos. Só acho necessário saber ler resultados alcançados desta forma.

    O Obitel, uma rede de pesquisadores de ficção televisiva, constituída por dez grupos de pesquisa, com apoios de universidades, agências de fomento e da Rede Globo, dedicou-se em 2015 a estudar fãs de programas de TV.

    O resultado foi discutido em um simpósio na USP e publicado no livro "Por uma Teoria de Fãs da Ficção Televisiva Brasileira" (Globo/Sulina, 456 págs.). Ainda que bem intencionado, é, de um modo geral, muito decepcionante. As diferentes pesquisas, normalmente de casos, mal arranham o fenômeno, limitando-se a descrevê-los.

    O problema me parece óbvio. Ainda não há como, no universo digital, ter uma ideia clara sobre quem são os fãs participativos, aqueles que votam em enquetes, postam comentários em blogs, compartilham links em redes sociais.

    Há diferentes grupos, com múltiplos interesses, agindo em meio ao anonimato digital. No caso da programação de televisão, é interessante perceber os movimentos que estes fãs (ou "militantes") fazem tanto em defesa de uns e de outros quanto no esforço de desqualificação dos rivais ("inimigos").

    Quando um ator canastrão como Sergio Marone e outro pouco expressivo como Guilherme Winter superam, com centenas de milhares de votos a mais, nomes como Tonico Pereira (5 mil votos), Enrique Díaz, Domingos Montagner, Alexandre Nero e Tony Ramos, é preciso refletir sobre o que significam estes fã-clubes.

    Várias outras votações, como esta que o UOL promoveu, costumam ocorrer neste final de ano. Os resultados, diferentes entre si, têm algo em comum: não devem ser sacralizados como "a voz do povo", mas sim como a voz de "algum povo" ou "alguns povos". Menos ainda como uma alternativa ou contraposição à voz da crítica especializada.

    No caso específico da televisão, acusar a crítica de ter uma visão elitista não cola. No meu caso, e no da maioria dos colegas em atividade, o foco principal de atuação ainda é a TV aberta, justamente por conta de sua penetração no país.

    Não há nada mais popular do que a programação destas emissoras, da Globo à RedeTV!. Entender as intenções, avaliar os resultados, enxergar os méritos, lançar luz sobre os defeitos e conseguir explicar com clareza o que é digno da atenção do espectador é trabalho para profissionais.

    mauricio stycer

    É jornalista, repórter e crítico e autor de 'Adeus, Controle Remoto'.
    Escreve aos domingos.

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