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    Maurício Stycer

    Siga o dinheiro

    20/12/2015 02h00

    Em um negócio movido a audiência e publicidade, como a televisão aberta, algumas decisões sobre programação dispensam explicações. Basta seguir o dinheiro, como recomendava o informante secreto dos repórteres do caso Watergate.

    Nesta semana, por exemplo, a Band anunciou que não exibirá o "CQC" em 2016. Ao mesmo tempo a coluna "Outro Canal", aqui na Folha, informou que a terceira temporada do "MasterChef" será maior que as anteriores e deve ficar seis meses no ar, às terças, a partir de abril.

    Tudo indica, assim, que não haverá uma semana sem competição de culinária na TV brasileira no ano que vem. Com a mesma voracidade que a Band, o SBT criou uma faixa semanal, aos sábados, exclusivamente para programas deste tipo.

    A emissora de Silvio Santos já anunciou para fevereiro a primeira disputa de churrasqueiros da televisão brasileira, o "BBQ Brasil". Vai ao ar assim que terminar a terceira temporada de "Hell's Kitchen" no canal. Na sequência, tudo indica, será exibida a segunda temporada de "Bake Off Brasil - Mão na Massa", especializado em sobremesas.

    A Record já confirmou, igualmente, a segunda temporada de "Batalha dos Confeiteiros", protagonizado pelo americano Buddy Valastro. Exótico, o programa premia o criador do bolo mais escultural –os jurados nem precisam prová-lo.

    A Globo exibe já há alguns anos duas competições de culinária, o "Jogo das Panelas" e o "Top Chef", ambas como quadros do programa matinal "Mais Você", de Ana Maria Braga, cujo público-alvo são donas de casa.

    Talvez por ter começado a surfar antes nesta onda, a emissora não se deu conta de que o vento mudou. O "MasterChef" mostrou que esses programas são capazes de oferecer bom entretenimento ao público adulto, de ambos os sexos –o que atraiu toda uma nova leva de anunciantes.

    O sucesso extraordinário do "MasterChef" afetou o juízo da Band, que exibiu uma versão infantil do reality no mesmo horário do adulto, entre 22h45 e meia-noite (escrevi a respeito na coluna "Vendo Ivana chorar na TV", em 1º/11).

    Encerrado nesta semana, depois de nove episódios, o "MasterChef Junior" conservou a audiência, na faixa dos 6 pontos (cada ponto equivale a 67 mil residências na Grande São Paulo), mas não teve um décimo da repercussão.

    A decisão correta teria sido, justamente, buscar novos públicos, exibindo a competição infantil, por exemplo, aos sábados ou domingos à tarde. Mas, em tempos de crise, com refluxo de público e publicidade, ninguém quer se arriscar.

    Os programas com cozinheiros amadores são um bom exemplo de como a programação da TV tende a se padronizar em escala mundial. O "MasterChef", criado em 1990, relançado em 2005 pela BBC e reformatado na Austrália em 2009, é um exemplo.

    A atração é hoje uma das franquias de maior sucesso na televisão, com versões nos cinco continentes. No Brasil, além da Band, o canal TLC, disponível para assinantes de TV paga, exibe atualmente cinco variações do programa (Argentina, Austrália, Colômbia, EUA e México).

    Contra esse pesadelo de uma televisão igual no mundo inteiro só resta bater panelas.

    mauricio stycer

    É jornalista, repórter e crítico e autor de 'Adeus, Controle Remoto'.
    Escreve aos domingos.

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