• Colunistas

    Saturday, 04-May-2024 08:36:26 -03
    Maurício Stycer

    Vídeos da internet

    17/01/2016 02h00

    Das mais otimistas às mais sinistras, todas as previsões sobre o futuro da televisão especulam sobre como o meio será impactado pelas mudanças de hábito dos espectadores.

    Dito de outra forma, o que mais interessa à indústria é saber hoje como os jovens vão consumir produtos audiovisuais amanhã. E, não menos importante, que tipo de conteúdo eles vão querer ver em seus aparelhos –laptops, smartphones etc.

    A ansiedade de quem está na televisão é natural e compreensível. No momento em que um jovem dá sinais de que prefere o YouTube à Globo, quem está dentro da emissora entende que precisa fazer alguma coisa.

    Uma resposta mais primária tem sido vista em todos os canais. É a profusão de programas ou quadros inspirados em "vídeos da internet". Além do reconhecimento de que há bom conteúdo fora do ambiente da televisão, esse recurso não atrai o jovem, para quem este "vídeo da internet" já é velho, e ainda instiga o público menos familiarizado a navegar por outras plataformas.

    Outra resposta, mais recente, pode ser vista no esforço de apresentar ao público da "velha mídia" os protagonistas da "nova mídia". São os chamados "youtubers", jovens que mantêm e protagonizam canais próprios na plataforma de vídeos, que pertence ao Google desde 2006.

    Vários destes jovens estiveram recentemente em programas da Globo, do "Fantástico" ao sofá de Fátima Bernardes, passando pelo talk show de Jô Soares. São sempre apresentados com o mesmo fascínio –"fulana tem 3 milhões de seguidores nas redes sociais".

    Esta "amizade forçada", para usar um eufemismo, é uma forma de as emissoras mostrarem que estão sintonizadas com a "novidade".

    O mercado publicitário também está tentando entender o significado destes números exibidos pelos "youtubers". Uma pesquisa divulgada nesta semana pelo "Meio & Mensagem" elencou as dez celebridades mais admiradas por adolescentes de 14 a 17 anos das classes A, B e C –cinco deles são donos de canais no YouTube.

    Com sua falta de sutileza peculiar, o mercado chama estes "mais admirados" de "influenciadores", ou seja, eles são vistos pelo potencial que têm de vender marcas e produtos. Afinal, é o que move a indústria.

    O que fazer se o adolescente prefere ver um vídeo de Kéfera Buchmann a assistir um capítulo da novela das 19h30? Deve ter muita gente sem dormir pensando nisso nas emissoras, mas espero que a resposta não seja tentar "importar" a jovem "vlogueira". É ridículo.

    Sobre isso, registro o lançamento no Brasil do livro "Televisão É a Nova Televisão" (192 págs. R$ 44,90), de Michael Wolff. Lançado em junho de 2015 nos EUA, foi tema de uma resenha minha, na Folha, em agosto.

    Wolff enxerga um "inesperado triunfo da velha mídia na era digital", acha que a Netflix está "levando para o mundo digital a programação, os valores e os hábitos da televisão" e entende que a indústria da internet vai se limitar à função de distribuição de conteúdo produzido pela turma da velha guarda.

    O livro é música para os executivos das grandes redes. Não surpreende que "Televisão É A Nova Televisão" seja lançado no Brasil apenas seis meses depois da edição original, publicado pela Globo Livros e com orelha assinada por Carlos Henrique Schroder, diretor-geral da Globo.

    mauricio stycer

    É jornalista, repórter e crítico e autor de 'Adeus, Controle Remoto'.
    Escreve aos domingos.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024