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    Maurício Stycer

    Loucuras de Carnaval

    14/02/2016 02h00

    Menos de dez meses depois do primeiro passeio de William Bonner pelo estúdio, em 27 de abril de 2015, o "Jornal Nacional" mostrou, com sua cobertura de Carnaval, que pode ir ainda mais longe.

    Além da aposta na informalidade como uma das ferramentas para deter ou, ao menos, diminuir o ritmo da queda da audiência, o "JN" não esconde mais o esforço de mimetizar o jornalismo da internet.

    Antes de anunciar a última reportagem do telejornal da Quarta-feira de Cinzas (10), o apresentador avisou: "Se você não conseguiu acompanhar tudo que aconteceu na folia que tomou as ruas brasileiras nos últimos sete dias, fique tranquilo. O 'Jornal Nacional' fez uma espécie de lista dos melhores momentos."

    Seguiu-se, então, uma reportagem de Danilo Vieira sobre diferentes momentos do Carnaval de rua, encerrada com seis rapazes fantasiados como a poltrona do programa "The Voice Brasil".

    "Pessoal, antes de terminar o nosso Top 10, vocês querem dizer alguma coisa?", perguntou o repórter. E eles, de forma ensaiada, falaram em coro: "Boa noite. E aí, Bonner, você vira a cadeira pra gente?".

    De volta ao estúdio, o apresentador sorriu e, girando a sua cadeira, disse: "Nós dois vamos virar a cadeira, Renata (Vasconcellos). Vamos lá!"

    Bem mais curto que o habitual, por causa do futebol, o telejornal durou apenas 20 minutos –a conversa de Bonner com Maria Júlia Coutinho, a Maju, sobre meteorologia, ocupou 10% do tempo.

    Na véspera, terça-feira (9), ao relatar o resultado da apuração do desfile das escolas de samba de São Paulo, o repórter Phelipe Siani presenciou uma enorme confusão entre dirigentes.

    Em vez de se afastar do tumulto, para descrevê-lo, o jornalista preferiu se manter no meio da bagunça, dando mais "emoção" ao relato. A situação me lembrou muito a forma de atuar dos repórteres do finado "Aqui Agora", do SBT.

    A reportagem teve quase cinco minutos, mas Siani não encontrou tempo para dizer que a causa principal da confusão (um jurado supostamente se esqueceu de dar nota em evolução para a Império da Casa Verde) poderia ter beneficiado a escola campeã.

    O repórter também não julgou necessário informar quais escolas ficaram em segundo e terceiro lugar, nem qual foi rebaixada. Aliás, no dia seguinte, essas informações tampouco foram dadas no relato sobre a vitória da Mangueira.

    Ainda na terça, Danilo Vieira, descrevendo como foi a noite de desfiles no Rio, iniciou o seu relato assim: "Eu deveria começar esta reportagem de um jeito mais tranquilo, mas aí veio a suingueira de Noel e eu mudei de ideia [pausa]. A Vila chegou na intenção de um lirismo sertanejo...".

    Em seguida, o repórter se perfilou diante de uma ala da escola e disse: "Um dos momentos mais difíceis é quando tem fantasia de palha ou de pena, que aí o pessoal vai passando e vai batendo na sua cara. Assim ó...".

    No mesmo dia, Ricardo Feltrin informou, em sua coluna no "UOL", que em três anos o "Jornal Nacional" perdeu 28 em cada cem telespectadores em todo o Brasil. Segundo dados obtidos pelo jornalista, a participação do "JN" no universo de TVs ligadas, nas 15 principais regiões metropolitanas do país, caiu de 53,7% em 2012 para 38,9% no ano passado.

    mauricio stycer

    É jornalista, repórter e crítico e autor de 'Adeus, Controle Remoto'.
    Escreve aos domingos.

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