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    Maurício Stycer

    Expectativa e realidade

    21/02/2016 02h02

    Não se questiona mais, tanto entre produtores de conteúdo quanto entre críticos, a ideia de que a televisão americana está vivendo uma "era de ouro". Essa percepção ganhou ares de verdade, ao longo dos últimos 15 anos, com a exibição de séries de alto padrão, como "Sopranos", "Breaking Bad", "Mad Men" e "House of Cards", entre outras.

    Essas produções muito acima da média se tornaram, por um lado, peças de propaganda da indústria na difusão de um exagero, na minha opinião -o de que estamos testemunhando uma "revolução" audiovisual.
    Por outro lado, essas boas séries (cada espectador tem a sua listinha) provocam um problema. Elas elevam o grau de exigência e a expectativa diante de cada nova produção.

    O lançamento de "Vinyl", no último domingo (14), ilustra bem a situação. Trata-se de uma superprodução da HBO, o canal que primeiro vislumbrou o caminho dessa "era de ouro" -a aposta em projetos com estrutura narrativa ousada, sem final feliz, protagonizados por anti-heróis.

    Três nomes brilham nos créditos como produtores-executivos: Mick Jagger, Martin Scorsese e Terence Winter. Ao primeiro, atribui-se a ideia do projeto, uma série sobre a indústria fonográfica, ambientada na década de 70 do século passado. O segundo dirigiu o primeiro episódio, de quase duas horas. E o terceiro, entre outros créditos, assina o roteiro de 25 episódios de "Sopranos".

    Tinha tudo para dar certo, e deu. Mas ainda está longe de reunir qualidades para entrar na minha lista de séries favoritas. Ressalto que falo com base apenas no primeiro episódio (o segundo vai ar hoje, à meia-noite).
    A produção impressiona, mas vi mais caricatura do que profundidade nos retratos desenhados em "Vinyl" -tanto dos "tubarões" da indústria quanto de seus funcionários ambiciosos e dos músicos idealistas que gravitam ao redor.

    A realidade também não correspondeu ao excesso de expectativa no caso de "American Crime Story: The People v. OJ Simpson", outra produção caríssima, que o canal FX está exibindo (quintas, às 22h30) desde o início de fevereiro.

    A recriação do longo processo que levou à absolvição do ex-jogador de futebol americano conta com ótimos atores, entre os quais Cuba Gooding Jr. como o protagonista, John Travolta no papel do famoso criminalista Robert Shapiro e David Schwimmer como o amigo Robert Kardashian.

    A série descreve, em particular, dois aspectos da história: como uma acusação de assassinato se transformou numa disputa de fundo racial e como o julgamento virou uma espécie de reality show, dando o tom do que viria a ser o jornalismo de celebridades a partir de então.

    Os temas são ótimos, mas a recriação é muito conservadora, quase jornalística. Preferia ver logo um documentário.

    Por fim, menciono a estreia da segunda temporada de "Mozart in the Jungle", da Amazon, exibida no Brasil pelo canal Fox Life como "Sinfonia Insana" (diário, às 22h). A série ganhou o Globo de Ouro como melhor comédia de 2015.

    Com Gael García Bernal como o maestro de uma orquestra de Nova York, o programa ri de todos os clichês -a excentricidade do condutor, a fragilidade emocional dos músicos, a insegurança da diretora e a arrogância dos mantenedores. Leve e simpática, é um bom passatempo.

    mauricio stycer

    É jornalista, repórter e crítico e autor de 'Adeus, Controle Remoto'.
    Escreve aos domingos.

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