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    Maurício Stycer

    Diversão em tempos de crise

    10/07/2016 02h07

    A crise está braba, mas as principais emissoras do país estão enxergando um motivo para comemorar. Há muito tempo não se assistia tanto à TV aberta no Brasil.

    Encerrado o primeiro semestre de 2016, Globo, SBT e Record, para ficar só nas três maiores, estão festejando o crescimento não apenas de suas médias de audiência, mas também, e mais importante, do número de aparelhos ligados.

    Esse aumento se registra tanto em São Paulo, principal mercado do país, quanto no PNT (Painel Nacional de Televisão), que reúne a audiência de 15 dos maiores centros urbanos, segundo dados do Kantar Ibope.

    Em São Paulo, o percentual de aparelhos ligados, em junho, entre as 7h da manhã e a meia-noite, alcançou média de 49%. A última vez que esse índice havia sido registrado foi em junho de 2006, quando ocorreu a Copa do Mundo na Alemanha.

    A primeira e mais óbvia explicação é a própria crise econômica. Com menos dinheiro no bolso, as pessoas reduzem os gastos com lazer e ficam mais em casa. Para alguns, o corte nas despesas, como tratei na coluna de domingo passado, inclui o cancelamento da assinatura de TV paga.

    A média de televisores ligados em São Paulo já vinha crescendo havia alguns meses (47,8% em abril e 48,8% em maio). Por isso é possível imaginar que o frio registrado na cidade em junho, maior que na média de outros anos, também deu uma ajudinha.

    As emissoras, por sua vez, preferem atribuir o crescimento da audiência média aos seus programas. E é aí que a tristeza aumenta.

    A Globo informa que o seu ótimo resultado no primeiro semestre foi impulsionado pelas novelas "Êta Mundo Bom", das 18h, "Totalmente Demais" (encerrada em 30 de maio) e "Haja Coração", das 19h30.

    Estes títulos apresentam alguns aspectos em comum, em especial, a simplicidade infantil e o excesso de lugares-comuns de seus enredos. Cada uma com as suas características, as três tramas promovem entretimento descomprometido e descolado da realidade.

    Não bastasse a crise econômica e política, para o espectador mais exigente é frustrante constatar o rebaixamento das ambições da Globo com seus folhetins nesses dois horários. Em anos anteriores, a emissora fez apostas bem mais ousadas e interessantes —-com números de audiência mais baixos.

    A Record, igualmente, credita às suas novelas os bons números que obteve em junho, em São Paulo— seu melhor resultado desde 2009. Além de estar exibindo a continuação de "Os Dez Mandamentos", às 20h30 (terminou esta semana), a emissora estreou no período "A Escrava Mãe", uma trama de época, na faixa das 19h30.

    Como os trunfos da líder de mercado, os da concorrente primam por desobrigar o espectador de qualquer esforço. Além da catequese religiosa, seus folhetins apelam para todos os clichês disponíveis e reiteram o mais do mesmo.

    O SBT parece ter percebido o movimento antes. A emissora vem apostando com sucesso, já há alguns anos, em novelas bobinhas dirigidas para crianças mesmo. No momento, são duas no horário nobre, uma original ("Cúmplices de um Resgate") e uma reprise ("Carrossel"). Pelo visto, Silvio Santos deu a dica aos rivais.

    mauricio stycer

    É jornalista, repórter e crítico e autor de 'Adeus, Controle Remoto'.
    Escreve aos domingos.

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