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    Maurício Stycer

    Livro sobre o 'Profissão Repórter' aponta caminhos para jornalismo

    18/09/2016 02h05

    Em um período tão conturbado quanto o atual na área da comunicação, os dez anos do programa "Profissão Repórter" são mais que um alento. A atração criada e comandada por Caco Barcellos na Globo tem dado seguidas lições e apontado inúmeros caminhos para quem reconhece a necessidade de melhorar a qualidade do jornalismo praticado no país.

    Com 38 anos de carreira, Barcellos é um dos mais respeitados jornalistas brasileiros. É autor de "Rota 66" (1992), no qual fez um levantamento dos policiais militares que mais matavam em São Paulo, e de "Abusado" (2003), livro-reportagem sobre um líder do tráfico de drogas no Morro Dona Marta, no Rio.

    A excelência do programa, nascido como um quadro do "Fantástico" em 2006, começa pelo slogan, que não engana ninguém. Ao contrário, entrega exatamente o que promete –"Os bastidores da notícia; os desafios da reportagem".

    Semanalmente, o espectador é convidado a partilhar de dúvidas dos repórteres, acompanhar dificuldades que surgem durante a realização do trabalho, refletir sobre decisões tomadas e avaliar o resultado final.

    Extensão natural das preocupações de Barcellos ao longo de sua carreira, a pauta privilegia o olhar sobre temas como direitos humanos, desigualdade social, dramas regionais, manifestações populares e violência urbana, entre outros.

    Os jovens profissionais são constantemente lembrados de que a melhor maneira de contar uma história é mostrando os personagens em ação, não apenas falando. Isso os obriga a estar sempre viajando para se posicionar ao lado daqueles cujos dramas ou alegrias estão sendo mostrados na TV.

    "Viva a reportagem e não se esqueça da experiência. Viva a experiência e não se esqueça da reportagem", escreve Caio Cavechini, ex-repórter e atual editor do programa, organizador do livro "Profissão Repórter "" 10 anos" (Planeta, 382 págs., R$ 49,90).

    A obra ajuda bastante a entender não apenas a gênese e desenvolvimento do jornalístico, como também o papel de Barcellos na formação profissional e ética de uma nova geração de repórteres.

    Aliás, o livro poderia se chamar "Professor Repórter". Não que Barcellos vista o figurino do mestre. Longe da exaltação ou do elogio mistificador, os inúmeros relatos de profissionais que trabalharam ou ainda trabalham com o jornalista reforçam o seu papel como instigador da curiosidade, da humildade e da coragem de seus comandados.

    Em um texto que escreveu para o livro, Barcellos conta uma aventura mirabolante que viveu para fazer uma reportagem em um garimpo no Pará. São voos perigosos sobrevoando a selva, histórias de garimpeiros sonhadores e pilotos quase suicidas.

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    Ao final, ele revela que em uma das viagens um assassino procurado pela polícia sentou-se ao seu lado, sem que ele soubesse.

    "Foram horas e horas de esforço de reportagem, técnicas de aproximação e jeitinhos para voltar do Pará com uma boa reportagem. E eu tinha deixado escapar uma grande história, a história que vinha sentada a poucos centímetros da câmera".

    É assim, dividindo com o público as suas dúvidas, expondo os vacilos, adotando um tom informal sem afetação,, que "Profissão Repórter" indica uma saída.

    mauricio stycer

    É jornalista, repórter e crítico e autor de 'Adeus, Controle Remoto'.
    Escreve aos domingos.

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