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    Maurício Stycer

    Em uma tragédia com tanto drama, a TV não apelou para emocionar público

    04/12/2016 02h00

    O acidente com o avião que transportava a equipe da Chapecoense foi um desses momentos em que o espectador teve a oportunidade de dizer muito claramente o que espera da televisão aberta.

    Globo e Band, que alteraram bastante suas grades na terça-feira (29), registraram crescimentos significativos de audiência. O SBT, cujo desprezo pelo jornalismo é notório, perdeu público nesse dia.

    A Globo festejou vários recordes no Ibope em São Paulo: o "Bom Dia SP" teve a melhor média desde 2008; o "Bom Dia Brasil" alcançou a melhor audiência desde 2007; o "Globo Esporte" bateu o recorde de 2011; e o "Jornal Nacional" registrou crescimento de 27% em relação à média das últimas quatro semanas.

    Adriano Vizoni/Folhapress
    Torcedores homenageiam os 71 mortos no estádio Atanasio Girardot, casa do Nacional, local onde seria a partida com a Chapecoense
    Torcedores homenageiam os 71 mortos no estádio Atanasio Girardot, casa do Nacional, local onde seria a partida com a Chapecoense

    Que os noticiários da emissora teriam bons índices de audiência na terça até seria fácil de prever. Menos óbvio foi o efeito que o drama ocorrido na Colômbia teve sobre o resto da programação da emissora.

    O tedioso "Encontro com Fátima Bernardes" registrou sua maior audiência desde a estreia, em 2012. Todas as novelas, com exceção de "Sol Nascente", que é ruim de doer, conseguiram números acima da média.

    Tratando da tragédia por mais de 14 horas seguidas, seja em noticiários, seja em programas esportivos, a Band registrou média de audiência no dia, em São Paulo, de 4,1 pontos, um aumento de 53% sobre a média do ano, segundo o site Notícias da TV. A Record teve uma média no dia 11% superior à do ano.

    Em situações dramáticas como essa, o jornalismo da TV mostra que ainda é um bem de valor. A impressão é que, em busca de informações sobre o assunto, o espectador ligou a televisão e não desligou mais.

    Apesar de todos estes sinais dados na terça-feira, no dia seguinte nenhuma emissora teve a sensibilidade de exibir ao vivo a homenagem às vítimas da tragédia realizada em Medellín. No horário e no estádio em que seria realizada a partida contra o Atlético Nacional, os colombianos prestaram um tributo lindo e emocionante aos brasileiros –registrado apenas por canais esportivos pagos.

    Num equívoco pelo qual deve ter se lamentado bastante, a Globo optou por exibir um filme ("Noé") na faixa em que, originalmente, apresentaria futebol, perdendo a chance de mostrar o comovente evento.

    Com exceção de programas dispostos a conseguir audiência a qualquer preço, como "A Tarde É Sua", "Superpop" (ambos da RedeTV!) e "Fofocando" (SBT), que colocaram em pauta supostas previsões feitas por um vidente, a cobertura nesses primeiros dias foi, na medida do possível, sóbria.

    É verdade que o "Jornal Nacional" apelou a Galvão Bueno e encheu o estúdio com funcionários para um minuto de palmas às vítimas, mas poderia ter sido pior. Com tantos elementos dramáticos envolvidos na tragédia, o jornalismo da TV não se viu obrigado a muitos truques baixos para fazer o espectador se emocionar.

    Ainda assim, o canal Esporte Interativo achou necessário fazer uma declaração de princípios contra o sensacionalismo. Ao longo da terça, informou a seus assinantes que não iria entrevistar familiar de nenhuma vítima por entender que seria "mais importante respeitar o lado humano" que "mostrar o sofrimento das pessoas". Ponto para o canal.

    mauricio stycer

    É jornalista, repórter e crítico e autor de 'Adeus, Controle Remoto'.
    Escreve aos domingos.

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