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    Maurício Stycer

    Exposição ajuda a entender por que Silvio Santos é um tipo único

    11/12/2016 02h00

    Silvio Santos já havia recebido a maior honraria que um brasileiro pode almejar em vida no próprio país -foi tema de um desfile de escola de samba do Grupo Especial no Rio, em 2001.

    Ainda assim, não é o caso de deixar em segundo plano a enorme exposição no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, aberta esta semana, dedicada a sua trajetória.

    Muito pelo contrário. "Silvio Santos Vem Aí!" apresenta um painel ainda mais complexo do que o oferecido pelo desfile da Tradição.

    Silvio é um tipo único, sem medida de comparação, na história da comunicação no Brasil. Não foi o primeiro self-made man a erguer um pequeno império, mas nenhum outro, em seu ramo, foi tão original e exerceu tantas funções ao mesmo tempo.

    A incrível história do camelô que virou dono de uma rede de televisão está na exposição, lógico.

    Mas o que sobressai em Silvio -e o MIS expõe muito bem- é como ele incorporou diferentes talentos a partir de um especial tino para a comunicação popular.

    Silvio nunca escondeu enxergar a TV, a princípio, como uma plataforma para vender produtos, mas duas de suas habilidades, a de vendedor e a de "entertainer", acabaram se fundindo de uma forma inexplicavelmente agradável e convincente.

    Além de dono e apresentador, Silvio sempre foi, também, diretor informal de programação e artístico da própria emissora. O raio de alcance de suas decisões não tem precedentes -vai da contratação de talentos à definição de horários, passando por sugestões sobre o penteado de apresentadoras.

    Dezoito pessoas, escolhidas pela importância que tiveram em sua trajetória, ganharam uma menção especial na mostra -uma estrela no chão, à moda da "calçada da fama" de Hollywood. O arco das homenagens vai de Manuel da Nóbrega (1913-1976) a Dulce Figueiredo (1928-2011) passando por Jassa.

    O primeiro, famoso radialista e empresário, criou o Baú da Felicidade, logo adquirido por Silvio. A segunda, fã do apresentador, foi fundamental no lobby junto ao marido, o general João Figueiredo (1918-1999), para a concessão de um canal de TV. E o terceiro é o seu cabeleireiro de décadas, a quem se atribui o poder de conselheiro sobre questões do SBT.

    A aventura de Silvio na política, talvez a sua faceta mais incompreensível, é igualmente lembrada na exposição. Está lá a cômica publicidade paga pelo SBT, lembrando ao espectador que Silvio iria aparecer em todas as emissoras durante o horário eleitoral.

    Também há um vídeo que mostra uma entrevista durante a campanha presidencial de 1989. A repórter faz uma pergunta. Silvio enxerga o microfone, mas sente falta de algo. Pergunta onde está a câmera. E, após ser informado, dirige seu olhar para ela.

    "Silvio Santos Vem Aí!" se estende até 2001, justamente o ano do desfile da Tradição e, não menos importante, do lançamento do programa "Casa dos Artistas", outro de seus grandes feitos.

    O dono do SBT se antecipou à Globo, que havia comprado os direitos do "Big Brother", e colocou no ar um arremedo do mesmo reality show. O programa foi responsável pela maior audiência da história do SBT -47 pontos de média, no episódio final, contra 18 da Globo, em São Paulo.

    De 2001 para cá, Silvio segue em evidência, mas sem o viço de antes. Tornou-se uma uma reluzente peça de museu.

    mauricio stycer

    É jornalista, repórter e crítico e autor de 'Adeus, Controle Remoto'.
    Escreve aos domingos.

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