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    Maurício Stycer

    Enquanto Netflix avança na conquista do mundo, Globo mostra suas armas

    21/01/2017 23h35

    A notícia desta semana foi o anúncio da Netflix de que registrou um crescimento recorde no último trimestre de 2016. A empresa adicionou 7,05 milhões de assinantes, a maior parte (5,1 milhões) fora dos Estados Unidos. Agora, do total de 93,8 milhões de membros, 47% estão espalhados pelo mundo.

    O resultado sugere que a empresa está certa na percepção de que o caminho do crescimento passa necessariamente pela expansão global. E o lugar do Brasil nesta estratégia foi mais uma vez reiterado no informe aos acionistas.

    Além do lançamento de "3%", a primeira série produzida no país, o ano que passou registrou também a estreia da segunda temporada de "Narcos", a série que, de acordo com a Bloomberg, mais fez pela Netflix no Brasil.

    Divulgação
    Wagner Moura na série "Narcos", do Netflix
    Wagner Moura na série "Narcos", do Netflix

    Em uma entrevista recente a esta publicação, o CEO Reed Hastings desenvolveu uma ideia que já havia expresso a Nelson de Sá, na "Ilustrada" -a de que o mercado brasileiro é o grande laboratório da estratégia de conquista de mais espaços ao redor do mundo.

    "Para sermos um serviço global bem-sucedido, precisamos ser mais do que Hollywood para o mundo. Precisamos ser uma companhia que compartilha histórias do mundo todo", disse ele. "A questão é como podemos tornar nosso conteúdo amplo, importante e relevante o bastante para isso acontecer."

    A resposta pode estar no Brasil. "É aqui, na sombra da Globo, que a Netflix vem criando, revisando e aperfeiçoando o primeiro rascunho de seu manual internacional", diz a Bloomberg. Estima-se, na falta de dados oficiais, que a empresa tenha entre 4 e 5 milhões de assinantes no país.

    Vários outros dados, aparentemente contraditórios, podem ajudar a entender melhor por que o mercado brasileiro é hoje um importante campo de batalha.

    Números do Ibope, divulgados pelo site Notícias da TV, informam que em 2016 o espectador brasileiro bateu recorde de permanência diária em frente à televisão –6 horas e 17 minutos, um crescimento de 16 minutos em relação ao ano anterior. Em 2010, a média era uma hora a menos.

    A crise econômica explica este recorde e, também, a má notícia de que, pelo segundo ano seguido, o total de assinantes de TV paga registrou queda em 2016. O último dado disponível, referente a novembro, indica 18,87 milhões de assinantes, contra 19,8 milhões, o pico, registrado no final de 2014.

    A Globo, claro, tem reagido em várias frentes. Uma delas, como escrevi em dezembro, é o investimento pesado em seu aplicativo on-line, resultado da percepção de não há mais como trazer para a televisão linear parte do público que a trocou pela internet.

    A programação neste mês de janeiro fornece outras informações importantes. Intensificando uma atitude já observada em anos anteriores, a emissora ofereceu um grande cardápio de novidades, enquanto as suas principais concorrentes serviam o público com reprises e melhores momentos.

    Até o fim do mês terão sido oito estreias –um exercício até ostentatório de exibir capacidade de produção num período em que o mercado publicitário considera menos importante.

    Além da quantidade, há também a preocupação com a relevância, ao menos de parte, desta produção. A minissérie "Dois Irmãos", encerrada nesta última sexta-feira, é de uma qualidade espantosa para quem tem acesso apenas à TV aberta no Brasil.

    Esta adaptação do livro de Milton Hatoum dirigida por Luiz Fernando Carvalho chega a parecer deslocada em meio à falta de ambição geral da programação.

    mauricio stycer

    É jornalista, repórter e crítico e autor de 'Adeus, Controle Remoto'.
    Escreve aos domingos.

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