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    Maurício Stycer

    Associação entre canais para enfrentar TV por assinatura expõe setor a debate

    19/02/2017 02h05

    Marcado para 29 de março, o desligamento da TV analógica no principal mercado do país, a cidade de São Paulo e municípios do entorno, está mexendo com a imaginação de três dos principais concorrentes da Globo.

    Record, SBT e RedeTV!, associados em uma única empresa, estão certos de que conseguirão ser remunerados pela cessão de seus sinais digitais às operadoras de TV por assinatura. As três emissoras hoje não recebem nada por isso.

    Ao aprovar a joint-venture do trio, em maio de 2016, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) estabeleceu algumas restrições, entre as quais a proibição de as emissoras cobrarem por seus sinais de operadoras com menos de 5% de participação no mercado. Por este motivo, as negociações se restringem às quatro principais empresas em atividade no país (Net, Sky, Oi e Telefônica).

    Batizada inicialmente como Newco, a associação entre Record, SBT e RedeTV! ganhou novo nome depois de aprovada pelo Cade. Agora chama-se Simba "" um nome que diz muito sobre o apetite de leão do trio.

    A resistência das operadoras à joint-venture é óbvia. Nunca pagaram nada; por que vão pagar agora?

    Os números em jogo, como quase tudo neste mercado, não são abertos. Já ouvi ou li algumas estimativas (ou chutes). De um lado, a Simba imagina que poderia alcançar uma receita de até R$ 1 bilhão por ano com a remuneração de seus sinais. Já as operadoras avaliam que o impacto sobre a mensalidade dos assinantes pode ser de até R$ 15.

    Entre as restrições impostas pelo Cade à associação, uma das mais interessantes é a exigência de que boa parte da receita líquida da nova empresa seja investida no desenvolvimento de produtos e serviços para televisão por assinatura e outras mídias. Ou seja, a Simba se obriga a ser uma produtora de conteúdo.

    No caso da RedeTV!, o elo mais fraco na empresa, esta possibilidade de receita é vista como tábua de salvação. O canal hoje vende quase metade de seus horários para igrejas evangélicas ou empresas com negócios variados.

    Record e Band também dependem pesadamente da venda de horários a igrejas para fechar seus orçamentos. Ricardo Feltrin, em sua coluna no UOL, estimou que entre 30% e 35% do faturamento destes três canais vêm do comércio de faixas da programação.

    Um dos sócios da RedeTV!, Marcelo de Carvalho é o único executivo do meio que fala abertamente sobre esta situação vergonhosa. Carvalho costuma se justificar criticando a distribuição desproporcional, segundo ele, entre verba de publicidade e audiência.

    Ele repete a seus interlocutores uma provocação feita no ar, há três anos, em sua própria televisão, durante entrevista a Luciana Gimenez, sua mulher: "A Globo tem um pouco mais de 30% de audiência e fica com mais de 80% do dinheiro da publicidade".

    Por esta lógica, o comércio de horários para igrejas seria uma forma de compensar a falta de publicidade. O SBT é uma exceção –Silvio Santos resolveu este problema usando a emissora como supermercado de suas próprias marcas.

    As negociações da Simba com as grandes operadoras de TV por assinatura, ora em curso, podem ajudar, ao menos, a tornar um pouco mais transparente este mercado e a colocar em pauta de forma aberta muitas das questões envolvidas.

    mauricio stycer

    É jornalista, repórter e crítico e autor de 'Adeus, Controle Remoto'.
    Escreve aos domingos.

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