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    Maurício Stycer

    Expansão da Netflix para fora dos EUA reforça necessidade de ecletismo

    11/06/2017 02h00

    Por tudo que já fez e provocou de mudanças na indústria, os planos da Netflix para o curto prazo e as previsões sobre o seu futuro interessam a todo mundo. Um dado recente e um estudo que acaba de ser divulgado jogam mais luz sobre o que vem por aí.

    Em uma entrevista à rede de TV CNBC, o CEO da empresa, Reed Hastings, informou que planeja gastar neste ano, com conteúdo original, US$ 6 bilhões, ou o equivalente a R$ 19,68 bilhões. O faturamento da empresa em 2016 foi de US$ 8,83 bilhões (ou R$ 29,03 bilhões).

    Maior produtora brasileira de conteúdo audiovisual, a Globo faturou R$ 15,33 bilhões em 2016, incluindo receitas dos canais pagos da Globosat e portal de internet.

    "À medida que cresce a nossa base de assinantes, queremos aumentar o orçamento atual", afirmou o executivo Reed Hastings.

    Um estudo divulgado na segunda-feira (5) pela empresa Digital TV Research trata justamente da expansão da base de clientes da Netflix. A previsão é que em 2018 o número de assinantes ao redor do mundo supere o de clientes nos Estados Unidos. Em 2022, o total de assinantes deve estar na casa de 128 milhões.

    É verdade que o público estrangeiro busca consumir a produção da indústria americana. Mas esta expansão da base fora dos EUA tem outro efeito interessante, ao reforçar a necessidade de a empresa oferecer um cardápio o mais eclético possível, incluindo produções locais.

    Principal concorrente da Netflix neste esforço de "dominação global", a Amazon anunciou, também na semana passada, a sua primeira coprodução na Índia. E, depois de anos de divergências com a empresa criada por Steve Jobs, fez um acordo para que o seu aplicativo seja incluído no menu da Apple TV.

    Tanto a Netflix quanto a Amazon têm se destacado por oferecer conteúdo mais ousado do que a média da produção da TV americana. Uma das explicações para isso é justamente o modelo de negócios de ambas, baseado em assinantes, e não em publicidade.

    Sem compromisso com empresas patrocinadoras, é mais fácil arriscar e atingir públicos (nichos) mais exigentes, dispostos a experiências que fogem do padrão. A contrapartida deste movimento é a maior facilidade para decidir pelo cancelamento de séries.

    Causou algum rumor, nos últimos dias, o anúncio da Netflix do fim do seu investimento em "Sense8", após duas temporadas, e de "The Get Down", que só teve uma. A empresa não divulga dados de acessos a programas específicos, mas tudo indica que a baixa audiência de ambas determinou os cancelamentos.

    Com custo estimado de US$ 100 milhões (ou R$ 328 milhões) por temporada, com cenas filmadas em 16 cidades de 13 países (incluindo São Paulo), "Sense8" conquistou muitos fãs por causa de sua abordagem generosa e progressista da questão LGBT.

    Tudo indica, porém, que a ficção científica das irmãs Wachowski (de "Matrix") não alcançou o custo-benefício esperado, não apenas em matéria de audiência, como de repercussão e prêmios.

    Questionado a respeito, Hastings procurou convencer os seus interlocutores de que este tipo de decisão é um estímulo à inovação, e não um recuo, como os fãs das séries canceladas apontaram.

    "Estou sempre estimulando a equipe de conteúdo: 'Temos que correr mais riscos, vocês têm que tentar coisas mais loucas. Porque devemos ter uma taxa de cancelamento mais alta em geral'", disse ele. A ver o que é intenção real e o que é marketing neste discurso.

    mauricio stycer

    É jornalista, repórter e crítico e autor de 'Adeus, Controle Remoto'.
    Escreve aos domingos.

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