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    Negócios nos parques

    08/06/2014 03h00

    Áreas de proteção ambiental podem gerar empregos e R$ 168 bi, mas precisam de investimentos

    O aproveitamento turístico de unidades de conservação brasileira, como áreas de proteção ambiental e florestas nacionais, poderia gerar uma receita de até R$ 168 bilhões em dez anos.

    O número é de uma pesquisa feita pelo Instituto Semeia, entidade sem fins lucrativos que tem Guilherme Passos como conselheiro.

    "O estudo procura estimar o potencial de geração de emprego e renda que as unidades de conservação podem ter se forem encaradas pelos governos como ativos, em vez de passivos", diz Passos.

    Os R$ 168 bilhões seriam alcançados caso o Estado investisse em parcerias para melhorar a infraestrutura dos locais e considerando que a renda do brasileiro chegasse a um terço da do americano.

    Em um cenário mais pessimista, no qual apenas fossem criados planos de manejo (documentos técnicos que definem os objetivos e as normas das unidades de conservação), a receita ficaria em
    R$ 53 bilhões.

    Hoje, porém, 84% das unidades criadas há mais de cinco anos não tem um plano de manejo, mostra o estudo.

    "O plano não é o responsável por incrementar o turismo, mas, ao fazê-lo, cria-se a figura do gestor, que engaja a sociedade. Esse processo está atrelado ao aumento dos investimentos nos parques", diz a diretora-executiva do instituto, Ana Luisa da Riva.

    Segundo a pesquisa, das 1.800 unidades de conservação do país, 777 poderiam ser exploradas turisticamente. Dessas, 30% têm uma maior vocação para a atividade.

    Os investimentos para atrair visitantes aos parques, no entanto, precisam sem ampliados, afirma Riva.

    Estima-se que haja um deficit orçamentário de, ao menos, 20% no setor. Cálculos do Semeia estimam que foram destinados R$ 447,9 milhões às unidades de conservação do país em 2012 -12% a menos que no ano anterior.

    Para Passos, há diferentes modelos válidos na gestão de parques, mas parcerias público-privadas são uma boa solução. "Possibilitam uma unidade na administração."

    A seguir, exemplos de parques cujo potencial turístico é explorado.

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    Laboratório americano

    No Yellowstone, um dos mais famosos parques norte-americanos, concorrências são lançadas a cada cinco anos para determinar as empresas que atuarão no local.

    A receita total dos concessionários é de aproximadamente US$ 230 milhões (cerca de R$ 515 milhões).

    O projeto de administração prevê que a gestão seja descentralizada. Assim, cada empresa que trabalha no parque oferece um tipo de serviço. Já houve, inclusive, um acordo que permitiu a uma companhia realizar a extração de material genético.

    O negócio previa a transferência de recursos financeiros para o parque, além de pagamento de royalties por qualquer produto comercializado que possuísse material desenvolvido a partir dos recursos de Yellowstone.

    A receita obtida através dessa parceria foi dividida entre a administração do local e o National Park System, uma das agências do governo americano responsáveis pela gestão de parques.

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    Mais dias

    Cerca de cem empresas têm concessão para atuar no Parque Nacional de Tongariro, na Nova Zelândia. São companhias que oferecem transporte, acomodação e caminhadas guiadas, entre outras atividades.

    Os dados aos quais a Semeia teve acesso mostram que essas empresas movimentaram US$ 25 milhões em 2002.

    Segundo pesquisa do Departamento de Conservação (responsável pelos parques do país), 20% dos visitantes que pernoitaram no Tongariro não teriam dormido no local se o serviço de hospedagem não estivesse disponível.

    Pouco mais de 60% nem teria visitado o local. Se não houvesse acomodação, os turistas teriam ficado 1,01 dia a menos no parque.

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    No Brasil

    O Parque Estadual de Ibitipoca (MG) é um dos exemplos brasileiros de como investimentos em infraestrutura alavancam o turismo, segundo o relatório da Semeia.

    O local recebeu melhorias simples em 2008, como estrutura de recepção e acesso fácil, e foi alvo de um plano de manejo. Como resultado, nos últimos três anos, a oferta de hospedagem ao redor do parque cresceu 28,6%.

    O turismo também foi um dos responsáveis por melhorar a qualidade de vida de moradores da região, ainda de acordo com a Semeia.

    Pesquisa feita em 2011 mostrou que 54,6% das pessoas que trabalham com turismo na localidade haviam atuado anteriormente em serviços domésticos ou gerais.

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    Festa cara

    Cerca de 80% dos brasileiros entrevistados pela consultoria Ipsos acreditam que o país não deveria sediar a Copa do Mundo e que o dinheiro gasto poderia ter sido melhor aproveitado.

    O Brasil aparece com o maior percentual entre as 26 nações analisadas no estudo. A média global é de 59%.

    Pouco mais de 35% da população do país, porém, afirma que receber o Mundial vai gerar benefícios.

    Questionados se as cidades têm a infraestrutura necessária para receber eventos como Copa do Mundo e Olimpíada, 74% dos brasileiros disseram que não. A média em todo o mundo foi de 52%

    A consultoria ouviu cerca de 19 mil pessoas.

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    Tecnologia A Cerviflan, fabricante de embalagens metálicas de aço, investirá neste ano cerca de R$ 15 milhões na aquisição de equipamentos.

    Inovação... A Algar investiu R$ 17,5 milhões em projetos de inovação de seus funcionários que serão apresentados nesta semana em MG.

    ...mineira Com os experimentos, a companhia espera ter um retorno financeiro de cerca de R$ 40 milhões em 12 meses.

    com LUCIANA DYNIEWICZ, LEANDRO MARTINS e ISADORA SPADONI

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    Maria Cristina Frias, jornalista, edita a coluna Mercado Aberto, sobre macroeconomia, negócios e vida empresarial.
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