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    Mercado Aberto

    Rumo ao Silício

    10/07/2014 02h00

    Brasileiros utilizam suas próprias ferramentas de trabalho para conseguir vaga nas empresas de tecnologia mais cobiçadas nos EUA

    Estar visível no mundo digital –disponibilizando textos em blogs e trabalhos para download– e, principalmente, manter o currículo atualizado no LinkedIn são de grande serventia para profissionais que pretendem chegar ao Vale do Silício, nos Estados Unidos.

    Pelo menos, foram essas iniciativas que levaram esses quatro brasileiros até a região do mundo que mais concentra grandes empresas de tecnologia e pequenas start-ups. Participar de listas de discussão em sites sobre novidades em programação também pode ajudar.

    Há ainda empresas especializadas em fazer a conexão entre os profissionais e os empregadores.

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    Pesca social

    Enquanto atuou como pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Roberto de Almeida desenvolveu softwares abertos para facilitar o trabalho de outros pesquisadores de acessar, analisar e compartilhar dados oceanográficos.

    Foi o conhecimento em programação que fez com que o profissional fosse parar na sede do Facebook, na Califórnia, onde trabalha desde fevereiro como engenheiro de dados.

    "No Inpe, eu desenvolvia modelos climáticos e os rodava em supercomputadores. Toda essa parte de análise e visualização de dados se aplica diretamente ao que eu desenvolvo no Facebook."

    Arquivo Pessoal
    Roberto de Almeida, engenheiro de dados do Facebook
    Roberto de Almeida, engenheiro de dados do Facebook

    O oceanógrafo foi encontrado na internet por uma recrutadora da companhia e passou por entrevistas por telefone e presenciais.

    "Fiz muitas perguntas durante o processo porque eu queria saber como era trabalhar no Facebook e, principalmente, como era a cultura de softwares de código aberto da empresa."

    O primeiro emprego de Almeida no Vale do Silício foi na Marinexplore, uma start-up de gerenciamento de dados oceanográficos que usava alguns dos programas desenvolvidos pelo brasileiro.

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    Jogada de empreendedor

    Em 2003, quando as alternativas de emprego na área de tecnologia eram escassas no Brasil, empreender foi a maneira mais acessível que Jeferson Valadares encontrou para adquirir experiência na área.

    A criação de uma empresa de desenvolvimento de jogos foi o primeiro passo do cientista da computação para chegar à Electronic Arts, onde hoje trabalha como gerente de estúdio.

    Arquivo Pessoal
    Jeferson Valadares, gerente de estúdio da empresa de games
    Jeferson Valadares, gerente de estúdio da empresa de games

    "Dois anos depois, senti que não tinha mais como crescer no Brasil. Comecei a frequentar feiras de tecnologia na Califórnia e fazer contatos para pleitear vagas no exterior."

    Um desses contatos, tempos depois, o entrevistou para uma posição na Digital Chocolate, empresa finlandesa que desenvolve games, sua primeira empregadora no exterior.

    "Aconselho os que estão começando a desenvolver seu próprio jogo a disponibilizá-lo para download, pois isso traz visibilidade, e a manter o currículo atualizado na rede."

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    Maratona de entrevistas

    Uma semana após o nascimento do filho, Beni Goldenberg recebeu um e-mail de um recrutador da Amazon perguntando se ele não tinha mesmo interesse em trabalhar na companhia.

    O brasileiro já havia sido contatado uma vez, mas o e-mail havia caído na pasta de e-mails com ofertas de produtos da companhia.

    "Eles viram minhas experiências com desenvolvimento de plataformas de rádio on-line no meu perfil no LinkedIn e me contrataram para trabalhar com venda de músicas pela internet."

    Arquivo Pessoal
    Beni Goldenberg, vice-presidente de empresa de plataformas de TV on-line
    Beni Goldenberg, vice-presidente de empresa de plataformas de TV on-line

    "Depois de entrevistas por telefone, eles me mandaram passagem para participar de entrevistas presenciais na sede da Amazon. Cheguei a fazer entrevistas até na hora do almoço. Oito em um dia."

    Além da importância de um currículo on-line, organizações como a BayBrazil, criada para conectar brasileiros ao Vale do Silício, ajudam a fazer novos contatos.

    Hoje, Beni trabalha no escritório da UUX em Miami, uma empresa brasileira de plataformas de TV on-line.

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    Porta brasileira

    O catarinense Pedro Valente chegou ao Vale do Silício há três anos. Ele foi transferido para a Califórnia depois de atuar no escritório do Yahoo em São Paulo.

    "Entraram em contato comigo para eu trabalhar na empresa no Brasil. Eu tinha um blog onde publicava textos sobre tecnologia e compilação de dados públicos. Isso me deu visibilidade."

    Fazer parte de listas de discussão de programadores também colaborou para que seu nome circulasse nas empresas do setor. Depois de trabalhar para a companhia por um ano no Brasil, pediu transferência para os EUA.

    Arquivo Pessoal
    Pedro Valente, do Yahoo
    Pedro Valente, do Yahoo

    "Quando decidi vir pra cá, pensei que aqui era o principal lugar do mundo para desenvolver minha carreira, pois é onde estão os melhores da minha área. Eu queria fazer parte disso", diz, por telefone, de São Francisco.

    Formado em Jornalismo, Valente aprendeu a programar sozinho.

    Hoje, ele trabalha na definição do modelo de produtos da companhia, como um novo site, por exemplo. Recentemente, participou do desenvolvimento da personalização da home page da empresa para cada internauta.

    com LUCIANA DYNIEWICZ, LEANDRO MARTINS e ISADORA SPADONI

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    Maria Cristina Frias, jornalista, edita a coluna Mercado Aberto, sobre macroeconomia, negócios e vida empresarial.
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