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    Brasil deveria se orgulhar do BNDES, diz professora de universidade inglesa

    17/05/2015 02h03

    "Vocês [brasileiros] deveriam se orgulhar do BNDES. Ele dá retorno [13,05% sobre o patrimônio líquido em 2014] e isso é bom. Tem de dar mesmo para poder investir em ativos de risco", diz Mariana Mazzucato, professora da Universidade Sussex, no Reino Unido.

    Nascida em Pádua (Itália) e criada nos Estados Unidos, Mazzucato é autora do livro "O Estado Empreendedor – Desmascarando o Mito do Setor Público Vs. o Setor Privado" (Portfolio Penguin). Ela teve uma reunião com a presidente Dilma Rousseff e seis ministros, entre eles, Joaquim Levy, na sexta-feira (15).

    Joel Silva/Folhapress
    Mariana Mazzucato, professora da Universidade de Sussex, Reino Unido, e autora de "O Estado Empreendedor"
    Mariana Mazzucato, da Universidade de Sussex, Reino Unido, e autora de "O Estado Empreendedor"

    Empresas inovadoras têm um alto risco e boa parte delas vai fracassar, pois entram em áreas de muita incerteza, lembra a professora.

    "O BNDES, por isso, precisa ter um portfólio grande, com empresas rentáveis para compensar e investir nas novas, onde o capital privado reluta em entrar", diz. O BNDES teve lucro de R$ 8,6 bilhões no ano passado.

    Ao argumento de bancos privados de que o BNDES, onera o Tesouro, prejudica o mercado de capitais e oferece generosas taxas de juros com as quais não conseguem competir, Muzzacato contesta prontamente.

    "Os bancos privados são inerciais, não tomam risco real ao investir. Têm de parar de reclamar e agir, assumindo riscos." A professora refuta a visão predominante hoje de que o Estado é tão lento quanto inábil para estimular a inovação e que deve ter o menor papel possível.

    "Ele tem papel crucial do ponto de vista do passado e do futuro. Cita o Vale do Silício para dizer que o investimento governamental foi fundamental para o surgimento de internet, GPS, "touchscreen", e Siri [sistema de reconhecimento de voz em celulares], sem contar a biotecnologia, nanotecnologia e as tecnologias "verdes".

    "Steve Jobs era muito inteligente, mas sem o governo americano não existiria a Apple." O Estado não faz tudo, mas é o gatilho na fase de alto risco, incerteza e de necessidade de muito capital, defende a autora.

    Nos maiores centros de inovação, como Israel, Estados Unidos e Alemanha, o Estado "empreendedor" criou novos mercados e financiou empresas. Nos EUA, o governo atuou por meio de várias agências governamentais.

    No caso do Brasil e da China, a concentração de recursos não acarretaria problemas, como a escolha de campeões, nem sempre eleitos com transparência?

    "Destacar o papel importante do banco público não implica em aceitar tudo o que ele faz. É preciso cobrá-lo e fazer com que invista em inovação", afirma.

    Fundos de venture capital (investem em empresas em estágio inicial), não têm tomado risco como deveriam?

    "Não como demonstram tomar", replica.

    Quanto a ajuste fiscal e resultados de política de austeridade, mostrou-se cética. Não considera razoável que o Ministério de Ciência e Tecnologia e certos órgãos tenham recursos cortados.

    O Brasil precisa decidir se quer ter "Apples" e "Jobs". "Se não quiser, não precisa de investimento estatal."

    com LUCIANA DYNIEWICZ, LEANDRO MARTINS E ISADORA SPADONI

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    Maria Cristina Frias, jornalista, edita a coluna Mercado Aberto, sobre macroeconomia, negócios e vida empresarial.
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