• Colunistas

    Tuesday, 30-Apr-2024 11:34:12 -03
    Mercado Aberto - Maria Cristina Frias

    'Posso investigar qualquer pessoa da Odebrecht', diz executiva

    13/11/2016 02h00

    "Tenho liberdade de inves­ tigar qualquer integrante da Odebrecht, não importa o cargo que possua", diz Olga Pontes, CCO (responsável pela conformidade a regras éticas de conduta) na Odebrecht S.A.

    "Sinto-me desimpedida [para inquirir], mesmo que seja o presidente."

    No cargo desde maio, vinda da Braskem, parte do grupo, a advogada passou a responder a um comitê do conselho de administração, este presidido pelo fundador Emílio Odebrecht.

    "Se a área de compliance está sob a gestão, difícil dizer que tem autonomia porque quem dá ordem e paga seu salário é o presidente."

    Pontes frisa que "para averiguar tem de existir um indício, que mostre necessidade de aprofundamento investigativo —mesmo que seja denúncia anônima."

    Em outubro, o grupo estendeu a medida a Braskem, Odebrecht Transport e Construtora Norberto Odebrecht, que já contrataram seus responsáveis por compliance.

    "Conseguimos fechar a contratação de CCOs para todas as empresas. Antes se reportavam ao CEO, agora, direto ao conselho, reforçando a independência da área. Desvincula a gestão de processos investigativos."

    Cada empresa do grupo passou a ter seu próprio conselho —no da Odebrecht S. A. são nove membros, três independentes. "Estamos recrutando mais dois membros de fora."

    Outra iniciativa foi a assinatura do Pacto pela integridade anti-corrupção, do Instituto Ethos.

    "É mais um esforço do grupo para virar a página e adotar novas atitudes." Recentemente, a Odebrecht S.A aderiu também ao Pacto Global da ONU, de boas práticas de governança.

    A criação do comitê de conformidade (de auditoria), formado por membros do conselho de administração, hoje em todos os ramos do grupo, é um requerimento para empresas de capital aberto, afirma.

    "É para quem está no mais alto de alto nível de governança, como empresas com ações na Bolsa de Nova York. A Odebrecht S.A, que é de
    capital fechado, não teria essa exigência."

    COTIDIANO

    No dia a dia, a área recebe informações pelo canal interno de denúncias. "Investigações existem, mas muitas são dados de jornais e revistas. Ouvimos e investigamos a veracidade do que é reportado", diz.

    O departamento cuida ainda de "outros tópicos, inclusive de assédio moral, relacionamento com fornecedores e clientes."

    Todas as denúncias de corrupção são investigadas por uma equipe segregada, que trata do passado.

    "Se chegar alguma denúncia no canal, relacionada à corrupção, terei de procurar a equipe independente e averiguar se aquele tema está sendo tratado por eles. Se não estiver, cabe a mim investigar", explica.

    Pontes afirma que no canal de denúncia não chegou nenhuma nova denúncia de corrupção de maio para cá.

    "Só reporto ao comitê de ética e de conformidade uma denúncia se encontrar um resultado, para que a informação não vaze e não se prejudique a investigação."

    Na Braskem, a advogada respondia ao CEO. "Meu substituto lá, já chegou se reportando ao conselho. Essa mudança cria um terreno fértil e sólido."

    A executiva se esquiva de tratar do envolvimento do grupo na operação Lava Jato, que mantém preso desde junho de 201o seu ex-presidente, Marcelo Odebrecht, além de dezenas de ex-executivos de seus quadros.

    "Não posso falar sobre investigações do que já ocorreu. Existe hoje um 'chinese wall', uma separação total, do passado. Eu cuido do futuro. Esses hábitos novos expressam nosso compromisso [com a mudança]."

    *

    O que estou lendo

    MARIA SILVIA BASTOS MARQUES, presidente do BNDES

    Zo Guimaraes/Folhapress
    RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL, 09-09- 2016, 11h00: Retrato de Maria Silvia Bastos, presidente do BNDES. Prédio do BNDES, Rio de Janeiro. (Foto: Zo Guimaraes/Folhapress, MERCADO) ***EXCLUSIVO FOLHA****
    Maria Silvia Bastos Marques, presidente do BNDES

    Ao assumir a presidência do BNDES, em junho, Maria Silvia Bastos Marques, lia "Mikhail Gorbachev: Minha Vida".

    A desordem instaurada em uma boa fase da União Soviética, assim como na economia brasileira, não foi o único ponto de interesse na obra para a nova dirigente do banco.

    "Biografias são a minha leitura predileta e gosto de história", disse ela.

    "Queria saber mais sobre aquele período e a participação de um líder que foi estratégico para seu país e para o mundo."

    Maria Silvia se debruça agora sobre "A República dos Sonhos", em que Nélida Pinon descreve Madruga, imigrante da Galícia, que vem tentar a vida no Brasil.

    "Sua história e a de sua família se mistura à história do Brasil e às reminiscências da vida e da história da Espanha. Muito bem escrito, um prazer ler."

    *

    Os veteranos

    A Siemens foi procurada por cerca de 400 empresas e instituições interessadas em saber como funciona um departamento de compliance, afirma Reynaldo Makoto Goto, diretor da área no Brasil.

    Envolvida no que se considerou o maior caso mundial de corrupção, a empresa viu crescer o número de consultas sobre o tema. "No último ano, foi exponencialmente. Todas na Lava Jato nos visitaram."

    Entre as explicações dadas pelo executivo está a de que o setor reporta à matriz, localizada na Alemanha.

    "Eu me sinto independente para investigar qualquer um, a linha de comando me dá isenção maior."

    Em 2008, a diretoria de compliance da Alemanha procurou autoridades da Europa para dizer que agentes da empresa haviam pagado subornos em troca de contratos.

    *

    Programa de calouros

    O assunto compliance é novo entre as empreiteiras e, por isso, a Camargo Corrêa enfrentou dificuldades para montar o seu departamento, diz Renato de Menezes Pires, diretor-executivo da área.

    O conselho de administração é o órgão que tem competência para destituir Pires do cargo, mas ele se reporta ao diretor-presidente.

    O setor aplica sanções previstas em normas da empresa, porém, se notam que houve excesso, "pode-se, sim, levar às autoridades externas".

    A diretoria foi criada em 2015, ano em que a empresa fez acordo de leniência por ter formado cartel em Angra 3. "Já havia iniciativas de controle interno e conduta de integridade antes", diz Pires.

    A construtura buscou conhecer como funcionam os departamentos de outras empresas para estruturar o seu.

    *

    Novas... O fórum do setor náutico criado pelo governo paulista quer tornar mais claras as regras para navegar no litoral sul e em águas doces.

    ...águas Outro pleito da indústria será reduzir a carga tributária de motores de barcos, hoje importados.

    Contas... As ações por falta de pagamento de condomínio caíram 55,7% em São Paulo neste ano, até outubro, em relação a igual período de 2015.

    ...em dia O motivo, aponta o Secovi-SP, são as mudanças no Código de Processo Civil, que facilitaram a cobrança.

    *

    Hora do café

    com FELIPE GUTIERREZ, TAÍS HIRATA e IGOR UTSUMI

    mercado aberto

    Maria Cristina Frias, jornalista, edita a coluna Mercado Aberto, sobre macroeconomia, negócios e vida empresarial.
    Escreve diariamente,
    exceto aos sábados.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024