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    Mercado Aberto - Maria Cristina Frias

    Estrangeiros pedem proteção para investimentos no Brasil

    23/01/2017 03h00

    O humor de investidores em relação ao Brasil melhorou e há mais confiança na política econômica, mas eles continuam a apontar problemas e incertezas, segundo empresários brasileiros.

    Uma dúvida é sobre como o setor privado proverá recursos de longo prazo para financiar a infraestrutura, uma vez que a participação do setor público, por meio do BNDES será bem menor.

    Os bancos privados brasileiros terão condição de financiar esse capital?

    Não com a taxa básica de juros atual a 13%. "Mas com a taxa Selic de um dígito, no fim deste ano, teremos um custo razoável", afirmou um banqueiro brasileiro.

    Apesar do interesse de investidores em concessões, há dificuldade de encontrar parceiros locais para se associar.

    Os sócios naturais, as construtoras, estão em situação difícil por conta do seu envolvimento com a Lava Jato.

    Outro problema para os estrangeiros é como ficará a proteção em relação ao câmbio. O investidor que aloca recursos em dólares ou euros quer o retorno na mesma moeda, não em reais.

    "Precisa dar a ele uma proteção, como em uma estrada, um pedágio que varie com a média móvel da taxa de câmbio", diz o economista-chefe do Itau, Mário Mesquita.

    Críticos dessa ideia alegam que seria inaceitável dolarizar o pedágio. "Mas a regra de preço da Petrobras leva em conta a taxa de câmbio, a energia de Itaipu é dolarizada, por que o pedágio não pode ser?", pergunta.

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    O efeito bateu

    A aprovação do teto dos gastos e o encaminhamento da reforma da Previdência já foram suficientes para os preços de ativos brasileiros mudarem de patamar.

    "Houve uma reprecificação, tanto na Bolsa, como de investimentos diretos. O mercado global também enxergou isso", afirma Maurício Minas, vice-presidente executivo do Bradesco no Fórum Econômico em Davos.

    "Nos últimos três ou quatro meses, os ativos, de fato, se valorizaram. Há muito mais interesse na compra de empresas, em participar de IPOs, e em fazer investimentos em infraestrutura no Brasil", acrescentou.

    Minas, como outros empresários presentes na edição deste ano do Fórum, observou um aumento de interessados em alocar recursos no país, principalmente entre companhias de fora que já estão no país.

    "A primeira onda de investimentos é de quem já está no Brasil. Mas já notamos uma segunda onda de quem queria estar, mas ainda não achou uma janela de oportunidade", relatou.

    "Alguns investidores nos disseram anos atrás: quando enxergassem uma janela, iriam para o Brasil. Parece que agora ela está se abrindo. Nada indica que o câmbio vai mudar. O momento é agora. Vai ficar cada vez mais caro comprar."

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    Em Davos

    De cabeça...O discurso do presidente chinês, Xi Jinping, foi a maior surpresa do Fórum Econômico Mundial este ano para Ilan Goldfajn, presidente do BC. Em sua estreia em Davos, Xi Jinping fez uma forte defesa da globalização.

    ...para baixo "Foi uma atitude do outro lado que não esperávamos", disse Ilan. Ainda parecia Abraham Lincoln ao dizer que o desenvolvimento chinês "é do povo, pelo povo, para o povo." Parecia mais um líder americano do que Trump.

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    Cresce número de patentes de brasileiros nos Estados Unidos

    A agência de patentes dos Estados Unidos deu registro a 398 títulos que asseguram uso exclusivo a empresas ou pessoas do Brasil em 2016, um crescimento de 7%.

    No ano passado passou a viger um acordo entre os órgãos dos EUA e do Brasil.

    O acerto, conhecido no mercado como "fast track" (via rápida) garante que as agências farão um exame acelerado de patentes que já valem no outro país.

    "Aqui se leva 11 anos para ser reconhecido. Por lá, são cerca de três anos. Com o 'fast track', ganha-se uma produtividade grande em termos de reconhecimento", diz Ulisses Mello, diretor do laboratório da IBM no país

    A unidade que ele comanda conseguiu 22 patentes nos EUA no ano passado, que já haviam sido protocoladas antes da vigência do acordo.

    Não vale a pena pedir patente nos EUA só para tentar reduzir o prazo no Brasil, diz Frank Fisher, sócio do escritório de propriedade intelectual Danneman Siemsen.

    "Recomendamos só às empresas que realmente almejam exclusividade de tecnologia nos EUA", afirma.

    As empresas brasileiras são pouco ativas na busca de patentes em outros países, diz Graça Aranha, diretor da Ompi (agência da ONU para propriedade intelectual).

    "Há 25 anos, a Coreia do Sul tinha os mesmos números que nós: cerca de 30 patentes concedidas nos EUA. Hoje, temos quase 400, e eles têm 222 mil", afirma.

    patentes

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    Com o pé esquerdo

    A confiança do consumidor na cidade de São Paulo, que vinha em alta no segundo semestre de 2016, começou este ano com uma retração de 7,7% em janeiro, em relação ao mês anterior, segundo a FecomercioSP.

    "A queda é pontual, está ligada à maior restrição de orçamento das famílias no início do ano", afirma o assessor econômico da federação Guilherme Dietze.

    A tendência para os próximos meses é de alta, diz ele.

    Na comparação com janeiro do ano passado, o resultado é positivo: um aumento de 14,8% do índice.

    "Começamos este ano em um novo patamar de confiança que, com a tendência de diminuição da taxa de juros e a gradual desaceleração da inflação, deverá melhorar, principalmente a partir do segundo semestre."

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    Parece... O presidente-executivo da farmacêutica Teuto, Marcelo Leite Henriques, esteve na Índia na última semana, segundo ele, por conta de parcerias que a empresa tem com indianos para vender matéria-prima e produtos acabados.

    ...mas não é Ele nega ter se reunido com o fundo indiano Torrent Capital e diz que não comenta rumores de que haveria uma disputa entre Torrent, Bain Capital e Advent para comprar uma planta de genéricos da empresa.

    Choque A rede de academias BodyPulse vai investir R$ 10 milhões para comprar equipamentos de eletroestimulação muscular aprovados pela Anvisa no fim de 2016. O plano da empresa é abrir 50 unidades no Brasil até 2020.

    Hora do café

    com FELIPE GUTIERREZ, TAÍS HIRATA e IGOR UTSUMI

    mercado aberto

    Maria Cristina Frias, jornalista, edita a coluna Mercado Aberto, sobre macroeconomia, negócios e vida empresarial.
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