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    Mirian Goldenberg

    Campeão do sexo

    16/07/2013 03h05

    O brasileiro é o povo mais ativo sexualmente de todo o mundo.

    O brasileiro faz sexo 145 vezes por ano: só perde para o grego, que faz 164 vezes por ano.

    O brasileiro dedica mais tempo ao sexo do que quase todos os outros países. No Brasil, cada relação sexual dura, em média, 21 minutos. A média mundial é de 18 minutos. O Brasil só perde para a Nigéria, país onde o tempo médio da relação é de 24 minutos.

    O Brasil, na América Latina, é o país em que homens e mulheres têm o maior número de parceiros sexuais ao longo da vida: uma média de 12, contra dez nos países da América Latina em geral.

    O brasileiro é o povo mais infiel do mundo.

    O brasileiro faz sexo, em média, três vezes por semana.

    Frequentemente nos deparamos com pesquisas que mostram que o brasileiro é um verdadeiro campeão do sexo.

    Esse quadro é bem diferente do que encontro nas minhas pesquisas.

    Muitas mulheres que entrevistei reclamam de:

    - dificuldade ou impossibilidade de atingir o orgasmo;

    - necessidade de fingir o orgasmo para deixar o parceiro feliz;

    - secura vaginal, dores com a penetração, perda da libido;

    - incapacidade de seduzir e de agradar um homem;

    - falta de desejo, falta de prazer, de intimidade, de experiência e de carinho;

    - insegurança com o próprio corpo e com os próprios odores;

    - vergonha das gorduras, das estrias, das celulites, dos peitos caídos e da bunda flácida;

    - medo de falar sobre o que gosta na cama.

    Apesar da fama de país tropical, onde supostamente viveriam mulheres e homens obcecados por sexo, o que tenho encontrado nas minhas pesquisas é uma enorme insatisfação sexual.

    A representação do brasileiro como um povo campeão do sexo faz com que muitas pessoas se sintam distantes de uma performance idealizada em termos de qualidade e de quantidade.

    A força dessa representação pode estar provocando uma grande frustração até mesmo em pessoas cuja vida sexual pode ser considerada bastante satisfatória.

    O mito sobre o sexo campeão do mundo, quando comparado com a realidade da maior parte dos brasileiros, parece estar escondendo, ou até mesmo produzindo, a sensação de inadequação e também a de profunda miséria sexual.

    mirian goldenberg

    É antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora de 'Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade'. Escreve às terças, a cada duas semanas.

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