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    Mirian Goldenberg

    Nem toda brasileira é bunda

    11/02/2015 14h16

    Como tenho mostrado nas minhas pesquisas, o corpo é um capital na cultura brasileira. O corpo jovem, bonito e sexy se tornou um investimento fundamental para garantir o sucesso feminino nas relações afetivas e sexuais e também no mercado de trabalho.

    É verdade que a mulher brasileira se emancipou amplamente de antigas servidões sexuais, procriadoras e indumentárias.

    No entanto, seu corpo encontra-se hoje submetido a coerções estéticas cada vez mais imperativas e geradoras de ansiedade.

    A brasileira vive uma verdadeira crise de identidade: um dos momentos de maior independência e liberdade é também aquele em que há um alto grau de controle sobre o corpo feminino.

    O corpo sem marcas indesejáveis (rugas, estrias, celulites) e sem excessos (gordura, flacidez) é o único que, mesmo sem roupa, pode ser considerado decentemente vestido.

    Não é por acaso que o Brasil tem o maior consumo mundial per capita de remédios para emagrecer: 40% das brasileiras dizem estar sempre de dieta.

    Nas últimas décadas, o Brasil sofreu uma verdadeira explosão da indústria da beleza. A brasileira se tornou a campeã mundial em cirurgias plásticas estéticas, especialmente lipoaspiração e implante de silicone nos seios.

    Pesquisa realizada em dez países mostrou que 63% das brasileiras querem fazer cirurgia plástica (o maior índice da pesquisa).

    Sete em cada dez brasileiras deixam de fazer alguma atividade quando se sentem feias ou gordas: elas deixam de ir à praia, a festas e até ao trabalho. Elas são as mais preocupadas em ter um rosto bonito, uma pele bem cuidada, um corpo em forma e uma imagem sexy.

    Outro número impressiona: 58% das brasileiras disseram que, caso a cirurgia plástica fosse gratuita, recorreriam imediatamente ao bisturi.

    Em uma pesquisa no Rio de Janeiro perguntei: "O que mais te atrai sexualmente em uma mulher?". A resposta mais citada pelos homens foi a bunda. Não é à toa que, nos últimos dois anos, o número de implantes de silicone nos glúteos aumentou 547%.

    Com o país inteiro comentando a bunda de uma famosa atriz, você não acha que é o momento perfeito para derrubar estereótipos e provar que, como canta Rita Lee, "nem toda brasileira é bunda"?

    mirian goldenberg

    É antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora de 'Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade'. Escreve às terças, a cada duas semanas.

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