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    Mirian Goldenberg

    "Chegou a hora de fazer uma faxina no Brasil!"

    15/12/2015 02h00

    Perguntei a homens e mulheres quais são as suas principais resoluções de ano novo.

    Um engenheiro de 63 anos afirmou: "Minha vontade é limpar o Brasil de todos os canalhas, ladrões e corruptos que destruíram o país e são os responsáveis por um dos momentos mais dramáticos da nossa história. Estamos sofrendo nas mãos destes criminosos há muito tempo. Prisão é o mínimo que eles merecem. Basta! Chegou a hora de fazer uma verdadeira faxina no Brasil!".

    Ele continuou: "Do lado pessoal, quero me afastar definitivamente de um irmão que só me explorou durante toda a vida. Ele roubou parte da minha herança, só telefona para pedir dinheiro, sempre me chantageia emocionalmente. Não é porque somos irmãos que preciso conviver com uma espécie de vampiro que só tem interesse no meu dinheiro".

    Uma cantora de 50 anos disse: "Preciso me desapegar do meu ex-marido. Foram 25 anos de um casamento infeliz, com muitas brigas, implicâncias, críticas, exigências, reclamações, chatices. Ele sempre com cara de sofredor, fazendo todo tipo de sacrifício para manter o casamento. Nossa energia não combinava, fazíamos muito mal um ao outro. Tentei manter a nossa amizade, mas, infelizmente, não combinamos nem como amigos".

    Uma professora de 43 anos contou: "Tenho uma colega que só sabe falar dela, exibir suas conquistas, mostrar que é superior a mim. Ela faz questão de demonstrar que tudo o que penso, escrevo ou falo é uma porcaria. Em uma palestra que dei, ela ficou o tempo todo conversando e rindo com outra colega, e ainda fez comentários irônicos para me humilhar. Foi a gota d'água: decidi ignorar esta pessoa, deletar da minha vida. Também quero jogar no lixo outras pessoas agressivas, destrutivas, invejosas e fofoqueiras. Durante anos tentei conviver com este tipo de gente, mas cansei".

    Aprendi com meus pesquisados que fazer uma faxina existencial é fundamental para construir uma vida mais leve, mais livre e mais feliz. A faxina material é relativamente simples. Jogar fora ou doar roupas, sapatos, bolsas, livros, tralhas e cacarecos pode até doer um pouco, mas não se compara à coragem de "jogar no lixo" ou "deletar" aquelas pessoas que não cabem mais em nossas vidas.

    Que tal começar a faxina agora?

    mirian goldenberg

    É antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora de 'Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade'. Escreve às terças, a cada duas semanas.

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