Recentemente, participei de um debate sobre os valores considerados femininos e a urgência de resgatá-los em tempos de tanta violência, intolerância e preconceitos.

Comecei falando das minhas pesquisas com homens e mulheres de 18 a 95 anos. Mostrei que a lista de reclamações femininas é enorme, e que elas afirmam sentir inúmeras faltas: falta de atenção, de elogios e de reconhecimento –elas se sentem invisíveis (dentro e fora de casa); falta de escuta e de intimidade; falta de tempo e de liberdade; falta de romance e de beijo na boca; falta de rir e de brincar etc. Muitas ainda disseram: falta de tudo!

Já os homens parecem mais satisfeitos e foram muito econômicos nas suas respostas. Eles disseram sentir, basicamente: falta de compreensão.

Quando falo sobre a principal queixa masculina, muitas mulheres imediatamente reagem com uma generalização: "Está vendo? Todo homem quer uma mãe!".

Fico intrigada com esta reação por dois motivos: nenhum homem que pesquisei disse que quer uma mãe, e a lista de queixas femininas é tão grande, e a masculina tão sintética, que não consigo entender porque elas são tão taxativas.

Os homens nunca me disseram, ao ouvirem as incontáveis insatisfações femininas que "elas querem um pai!".

Depois de três décadas de pesquisas sobre os comportamentos e discursos dos brasileiros, sei que é muito difícil para os homens se abrirem sobre suas dificuldades e desejos. Enquanto as mulheres falam muito sobre o que querem (e o que não querem), eles preferem silenciar sobre seus sentimentos.

E quando eles conseguem falar, mesmo que de forma tão econômica, são acusados de serem crianças que buscam o amor incondicional de uma mãe.

Apesar das inegáveis transformações nos comportamentos masculinos, muitas mulheres insistem em reproduzir os clichês: "Homem não chora!"; "Todo homem é machista, galinha e infiel!"; "Eles fogem das mulheres inteligentes e independentes!"; "Eles só querem sexo, não querem compromisso"; "Eles não querem uma mulher de verdade, eles querem uma mãe!".

Já que as mulheres se queixam tanto de falta de escuta e de reconhecimento, não estaria na hora de parar de reproduzir os estereótipos que só reforçam a lógica da dominação masculina?

mirian goldenberg

É antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora de 'Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade'. Escreve às terças, a cada duas semanas.

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