• Colunistas

    Thursday, 02-May-2024 04:08:46 -03
    Mirian Goldenberg

    Muitas mulheres mais velhas usam palavrão como forma de libertação

    04/10/2016 02h00

    Reprodução/Flickr/Nacho
    O nível de stress pode ser inversamente proporcional aos palavrões falados
    O nível de stress pode ser inversamente proporcional aos palavrões falados

    Na internet circula o texto "O direito ao foda-se!", cujo autor seria Millôr Fernandes. Em uma entrevista, Millôr negou a autoria do texto. Luis Fernando Verissimo e Pedro Ivo Resende também aparecem como autores do mesmo texto, mas com um título diferente: "O direito do palavrão".

    O mesmo já aconteceu comigo. Sempre preciso explicar que não sou a autora do texto "Sexalescentes" que faz sucesso na internet.

    "O direito ao foda-se!" defende que:

    "O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de 'foda-se!' que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do 'foda-se!'? O 'foda-se!' aumenta minha autoestima, me torna uma pessoa melhor, reorganiza as coisas, me liberta. Não quer sair comigo? Então 'foda-se!'. Vai querer decidir essa merda sozinho mesmo? Então 'foda-se!'. O direito ao 'foda-se!' deveria estar assegurado na Constituição Federal.

    Liberdade, igualdade, fraternidade e 'foda-se'!.

    Como mostrei no livro A bela velhice, muitas mulheres mais velhas adotaram o "direito ao foda-se!" como uma forma de libertação dos preconceitos associados ao envelhecimento.

    Uma atriz de 63 anos contou:

    "Muitas vezes sinto vergonha do meu corpo, pois não consigo emagrecer, estou flácida, com celulites e estrias. Mas, se quero ir à praia de biquíni, digo para mim mesma: Foda-se! Vou deixar de ir à praia porque envelheci? Vou ficar trancada em casa com vergonha do meu corpo? Vão me achar uma velha baranga de biquíni? Foda-se! Vão me chamar de velha ridícula porque namoro e dou beijo na boca? Foda-se!".

    A Bela Velhice
    Mirian Goldenberg
    l
    Comprar

    Ela nunca diz "foda-se!" diretamente a alguém. Ela diz somente a si mesma, como um mantra de proteção quando se sente constrangida com o "peso da idade". Para ela, o "foda-se!" é uma atitude de viver com mais liberdade, sem se preocupar com o olhar dos outros e com os estereótipos sobre a velhice.

    "Eu busco ser a melhor versão de mim mesma. Quanto mais livre eu sou, mais feliz me sinto. Não tenho tempo para desperdiçar me preocupando com a opinião dos outros e com os rótulos de como uma velha deve se vestir e se comportar. Foda-se o que os outros pensam!"

    Ela conclui parafraseando o texto que Millôr não escreveu: "Liberdade, felicidade e foda-se!".

    mirian goldenberg

    É antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora de 'Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade'. Escreve às terças, a cada duas semanas.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024