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    Monica de Bolle

    Há um pessimismo exagerado no país?

    28/05/2015 03h30

    Eu não li o livro de Mariana Mazzucato, autora de "Estado Empreendedor "" Desmascarando o Mito do Setor Público vs. Privado". Contudo, li sua entrevista concedida ao "Valor Econômico", em que afirma haver pessimismo exagerado no Brasil.

    A entrevista veio acompanhada da notícia de que a professora da Universidade de Sussex se reuniu nos últimos dias com a presidente Dilma e sete de seus ministros. Parece que ela tem "bom trânsito no Ministério da Ciência e Tecnologia e no BNDES", além de estar sendo "cotada para ser consultora do governo na área de inovação".

    De acordo com a entrevista ao "Valor", Mariana Mazzucato está afinada com os signatários do novo manifesto de economistas heterodoxos –mais um– contra as políticas econômicas do governo.

    A pesquisadora afirma que políticas contracionistas não funcionam e pediu ao entrevistador que lhe dissesse um país onde elas haviam funcionado. Não é papel do repórter lembrar à entrevistada que, naquele exato momento, ela pisava em solo onde as políticas de ajuste haviam não apenas funcionado mas pavimentado o sucesso dos "anos Lula" por ela elogiados, o período de extraordinária bonança externa em que o respaldo à solidez macroeconômica foi mantido.

    O Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o regime de metas de inflação, o câmbio flutuante, tudo aquilo que sabemos ter trazido enormes benefícios para o país nos últimos anos. Tudo que foi desarranjado no primeiro mandato de Dilma Rousseff e que a presidente agora tenta reconstruir com seu ministro exilado. Exílio, pois Levy é o general em labirinto unicamente brasileiro.

    A entrevista está repleta de elogios ao BNDES, ao papel do banco de fomento na condução da inovação e da produtividade. Os leitores que acompanham essa coluna sabem que já falei de ambos: do BNDES e da falta de produtividade. Aliás, sabem também que já relacionei o BNDES à falta de produtividade no Brasil.

    O canal é simples e bastante relevante, como revela pesquisa empírica recente que hei de publicar em breve: a presença maciça do BNDES no mercado de crédito brasileiro com suas linhas subsidiadas pressiona as taxas de juros reais, o custo do capital.

    O custo mais elevado do capital desincentiva a formação bruta de capital fixo, o investimento. Sem investimento, como a própria autora do "Estado Empreendedor" reconhece, não há ganho de produtividade. Portanto, o "Estado Empreendedor", se é que a ideia faz algum sentido, tem limites muito claros, assim como tem a atuação dos mercados na ausência de mecanismos adequados de regulação.

    O Brasil está fazendo um ajuste doloroso porque acumulou desequilíbrios severos. O Brasil está comendo o pão que (complete com o nome que desejar) amassou porque passou muito tempo acreditando que todos os antigos problemas estruturais haviam sido resolvidos com o maná das commodities.

    Agora, precisa arrumar as contas públicas, reduzir o papel do Estado, que pesa como chumbo sobre o investimento das empresas –será que a autora conhece o tamanho de nossa carga tributária?–, e encontrar alguma fórmula para resgatar a produtividade. Tal fórmula certamente não passa pelo empreendedorismo que semeou BNDES e protecionismo e colheu juros, inflação e desemprego.

    monica baumgarten de bolle

    Escreveu até setembro de 2015

    É economista. Na coluna, tratou das grandes discussões econômicas internacionais adaptadas ao contexto brasileiro.

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