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    Mônica Bergamo

    Top Carol Francischini fala do machismo e das ciladas do mundo da moda

    24/11/2013 03h00

    Aos 12 anos, Carol Francischini desembarcava em Nova York para iniciar sua carreira internacional. Em 2001, a garota de Lindoia (154 km de SP) passava-se por gente grande no glamouroso e incerto mundo da moda.

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    "Saí de casa adolescente. Foi uma loucura. Sozinha, sem falar inglês. Te jogam em um mundo bem real. Era tratada como adulta e tinha que me comportar como tal", relata à repórter Eliane Trindade, às vésperas de embarcar novamente para os Estados Unidos para um recomeço.

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    Doze anos depois, a modelo de 24 anos decidiu se mudar do Brasil, levando a filha, Valentina, que faz um ano na próxima sexta-feira. "Uma das razões é protegê-la da curiosidade."

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    O temor materno é que a filha seja tragada pelo turbilhão de especulações que cercou sua gravidez, quando Carol decidiu não revelar a identidade do pai da criança. Uma bisbilhotada no Google dá a medida do que a "produção 100% independente" representou na vida e na carreira da top. Entre as pesquisas relacionadas ao nome da modelo aparecem "grávida de Luciano Huck", "grávida de Bruno Gagliasso", "quem é o pai", e por aí vai.

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    "Não sei se vai ter um ponto final nessa loucura. Valentina está crescendo, vai fazer perguntas e ver tudo isso na internet", angustia-se Carol.

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    A bola de neve, reconhece, ganhou forma pelo modo como comunicou a gravidez. No backstage de um desfile no Fashion Rio, em maio de 2012, contou a novidade para um jornalista. "Ele perguntou quem era o pai e respondi: 'Não é ninguém'." Assim foi publicado. "Quando você fala é uma coisa, escrito é outra. Foi o meu erro. Achei que falava com um amigo."

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    Ao ler a notícia em um site de celebridades, Carol diz ter tomado um susto. "Era para ser o anúncio de uma coisa maravilhosa. Virou barraco."

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    A sanha em desvendar a paternidade do bebê da top logo se apresentou. Hospedada no hotel Fasano, Carol conta ter sido surpreendida com a primeira nota que dizia que o pai de sua filha era o músico Gabriel, o Pensador. "Eu estava na piscina e ele pediu para deixar a mochila do meu lado para ir surfar. Já virou pai, coitado", relata.

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    Era o primeiro famoso de uma lista que foi ganhando nomes, dia após dia. Em seguida, surgiram as especulações com astros da Globo, como Luciano Huck. "Coitado dele e da Angélica [mulher do apresentador]. Não tenho ideia de como ele surgiu no meio disso. A última vez que o vi havia sido seis anos antes. Ele nem lembrava que eu tinha ido ao programa dele."

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    Apontada como pivô da separação do ator Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank -o casal reataria meses depois-, Carol também se disse surpresa. "Encontrei o Bruno numa festa e virou isso."

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    Desabafa: "Precisavam achar um global? Não posso namorar um anônimo, um pobretão? Tinha acabado de terminar um namoro. Pessoas que encontrei em festas e jantares já viravam suspeitas."

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    Diz que a figura mais notória que namorou é o campeão olímpico César Cielo. Bem antes de engravidar, esclarece. "Meu histórico de relacionamentos é tranquilo. Nunca fui santa, mas também não peguei todo mundo." Jura que o anticoncepcional falhou.

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    Depois, apareceram os empresários. Um deles, Luigi Cardoso, ganhou ação de indenização de R$ 20 mil contra um blogueiro que escreveu ser ele o pai. Carol não processou ninguém. "Não tenho cacife pra isso. Advogado é caro", diz ela. Jantar em Miami com Luigi e a mulher dele, Lala Rudge, teria sido a deixa para que ele entrasse na lista.

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    Sobre a identidade do pai da criança, ela repete: "A pessoa sabe que é o pai, mas nunca procurou saber da filha. É minha filha e ponto". Um exame de DNA foi feito para liquidar o assunto. Quem espera a revelação nesta reportagem também vai se frustrar. "Valentina é a única pessoa que tem direito de saber quem é. No momento certo eu vou contar a ela."

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    O ônus de ser mãe solteira foi grande. Quando anunciou que estava grávida de quatro meses, a top estampava uma campanha mundial da GAP. Na volta às passarelas após o parto, livre dos 10 kg que engordou na gestação, Carol viu os contratos minguarem.

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    "Ela perdeu muitos trabalhos aqui. O cliente diz que é perfeita, mas não quer associar a imagem dela com sua marca", relata Isabel Oliveira, agente da modelo. Agenciada pela Joy, no Brasil, e pela Women, no exterior, a top chegou a faturar US$ 1,5 milhão por ano. "O dinheiro entrava e saía. Sou o homem da casa. Minha mãe e meus dois irmãos dependem de mim."

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    Os julgamentos foram impiedosos. "Ninguém ficou do lado dela. Decidir não abortar é uma atitude corajosa de uma menina tão jovem e com tanta coisa em jogo", afirma Liliana Gomes, dona da Joy. "Carol pegou o caminho mais difícil, o de não pedir ao cara que a sustentasse."

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    Em pleno século 21, sentiu na pele que o peso da decisão de ter um filho fruto de um relacionamento fortuito ainda recai sobre a mulher. "Sempre foi assim e está longe de mudar", resigna-se. "Nunca pensei em tirar o bebê. Muitas meninas disseram: 'Carol, com a sua idade passei por isso e não tive a coragem que você teve. Fui lá e abortei'. E se arrependem. Mas não abrem a boca."

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    Assim como pouco se fala da roda-viva em que candidatas a tops são lançadas, em ritmo de sexo, drogas e rock'n'roll. "Já passei por tudo isso. Vivo nesse mundo desde os 12, podendo ver e fazer tudo. Escapei de muita enrascada. Saía pra balada quase todos os dias. Se não tivesse cabeça, não estaria aqui. Muitas amigas se perderam."

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    A mãe e modelo diz que não deixaria a filha trilhar o mesmo caminho tão cedo. A top parou de estudar na sétima série. Rodou o mundo, com acesso VIP às melhores festas do circuito Paris, Milão, Nova York.

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    A maturidade veio a fórceps. "Virei mulher de uma hora para outra. Sou 'pai' de família. Valentina está em primeiro lugar." Agora, tenta passar a limpo a imagem de "destruidora de lares". A passagem por NY em novembro foi frutífera. Emplacou uma campanha para a Macy's. "Comecei a respirar", disse ela, por telefone, ansiosa para desembarcar hoje em São Paulo e poder abraçar a filha. "Fico sem ar quando a vejo pelo Skype. Valentina foi a melhor coisa que me aconteceu na vida."

    mônica bergamo

    Jornalista, assina coluna com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.

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