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    Mônica Bergamo

    Após sucesso nos palcos, Mônica Martelli aposta na versão cinematográfica

    05/01/2014 03h00

    Mal chega ao local de filmagem, a atriz Mônica Martelli, 45, faz o primeiro, e um dos únicos pedidos da noite, à copeira da equipe. "Dá pra preparar um macarrãozinho com molho? Minha filha vai chegar e não quero que ela jante tarde", diz.

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    Enquanto filmava em SP "Os Homens São de Marte... E É pra Lá que Eu Vou", baseado na peça homônima, a protagonista e criadora do espetáculo se dizia desesperada de saudade de Julia, 4. "Deixei dez cartas, que todo dia a babá entregava pra ela. Fiz um cartaz com dez bolas e, quando acabava o dia, riscavam um a menos", relata à repórter Marcela Paes.

    Precisou renovar o estoque de cartinhas ao longo de um mês e meio de filmagens entre São Paulo e Bahia.

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    No camarim improvisado em um quarto de um casarão no Ipiranga, bairro da zona sul, ela se empolga e fala sobre Fernanda, personagem que interpreta há nove anos nos palcos. Já foi vista por 2 milhões de espectadores. "Ela é apaixonada por amar. Eu sou totalmente assim! Se alguém acha exagerado, eu digo: 'Não é não. Vai na minha, é isso mesmo'."

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    Criada por mãe sindicalista e feminista "de carteirinha", a atriz não vê problemas na busca insistente das mulheres por um amor. "Antes, moderno era não ser casada, trabalhar pra caralho e não querer um homem. Ninguém quer voltar atrás na revolução feminina, mas hoje é mais avançado assumir que o amor é importante", discursa.

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    Separada há um ano, após um casamento de dez com o produtor musical Jerry Marques, Mônica achou que nunca mais fosse se envolver com ninguém. "Fiquei traumatizada. Falei: 'Não quero mais saber de trepar também'", ri. "Perdi a virgindade com 15 anos, já estava transando há quase 30. Cansei. Até que fiquei apaixonada de novo."

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    Voltou à ativa, em setembro, quando começou a namorar o investidor carioca Patrice de Camaret. Foram apresentados por Barbara Gancia, colunista da Folha e colega dela no programa "Saia Justa" (GNT). E o relacionamento se mantém na ponte aérea. Ele mora em SP e ela, no Rio. "A gente se vê nas horas certas, na saudade. É ótimo."

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    "Sou apaixonada pelo amor, amo estar apaixonada e estou perdidamente pelo Patrice. Somos parecidos em tudo. Grande encontro!", diz a atriz. "A vida é feita de maus e bons encontros. Os bons potencializam o que temos de melhor, nos fazem brilhar. Os maus vão te anulando, murchando. A vida se encarrega de desfazê-los."

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    Toma um gole do suco de laranja e dá uma mordida no pão integral com peito de peru. "Estou dando um tempo no queijo. Vou ter cenas de biquíni", brinca Mônica, com seus 64 kg e 1,79 m. "Não tenho tendência a engordar, para ódio da maioria das mulheres. Tomo até Nescau, às vezes, antes de dormir. Não faço dieta. Tenho prazer em comida saudável, mas como sobremesa sem culpa."

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    E filosofa: "Vou equilibrando. Melhor coisa na vida é o equilíbrio. Não sou radical em nada! Inclusive mudo muito de opinião, graças a Deus. Flexibilidade é a palavra!".

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    Pede licença ao maquiador e faz os últimos retoques. "Já expliquei que tenho mania de fazer isso por ter sido maquiadora. Ele nem liga", justifica-se, e passa o rímel nos cílios.

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    O ator Paulo Gustavo chega ao set e cumprimenta Mônica e Daniele Valente, que interpreta a melhor amiga da protagonista. Os três conversam animadamente sobre pequenos ajustes nas falas que serão filmadas em seguida.

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    Mônica é só elogios ao amigo. "Conheço o Paulo há muito tempo. Temos afinidade. A gente leva a vida de uma forma leve, sem deixar de lado a crítica", diz Mônica, sobre o comediante que bateu recorde de bilheteria com o longa "Minha Mãe É uma Peça".

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    Recurso fácil em comédias, palavrões ficaram de fora de "Os Homens São de Marte...". Mônica diz que tem "horror" a piadas machistas, com portadores de deficiência e sobre doenças. "Muita gente faz piada com TOC [transtorno obsessivo-compulsivo]. Não consigo achar graça em coisa que mexe com sofrimento verdadeiro."

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    Fã de Woody Allen ("ele faz pensar e refletir através do humor"), a atriz prefere fazer rir com situações cotidianas. "As piadas estão na sutileza. Na peça não tem uma obrigatória a cada três minutos."

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    Também prefere não trabalhar no formato stand-up. Nem apela para tiradas "politicamente incorretas", como a que o apresentador Danilo Gentili fez com uma doadora de leite. "Existe uma coisa na vida chamada bom senso. Quando se diz isso, já falam em censura. É certo pegar essa mulher que faz um trabalho importante e fazer piada? Não."

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    Também se considera uma comediante fora dos padrões por rodar o Brasil sem patrocínio. Os ingressos (de R$ 70 a R$ 80) fecham as contas. "No teatro, se você não faz bilheteria, tem que tirar do bolso. Antigamente, o pessoal pegava empréstimos de R$ 100 mil no banco, porque a bilheteria sempre pagava. Hoje, esquece. O dinheiro que você põe, jamais recupera."

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    A engenharia financeira dela funciona e dá lucro pelo fato de ter uma equipe enxuta. "Meu caso é atípico. Trabalho com três pessoas: operador de luz, de som e produtora. Nem preciso de camareira. Eu cuido da minha roupa."

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    A conta só não fecha melhor pela sangria das meias-entradas, que aponta como uma das explicações para o alto valor do ingresso no Brasil. "É um problema seriíssimo. Você tem que pensar que o borderô vai ser 75% de meia [entrada]. Aqui rola essa cara de pau de todo mundo ter carteira de estudante. Chega advogado lá que faz curso de inglês e tem carteirinha."

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    A declaração provoca comoção no camarim. Daniele Valente também dá pitaco. "Sabe o que não é justo? Não ter nenhum incentivo do governo, fazer a produção com o seu dinheiro e ter que dar meia-entrada. É revoltante!"

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    Já no cinema, Mônica anda bem de patrocínio. O longa captou R$ 6,6 milhões. "Na questão do incentivo à cultura sempre tem o que melhorar. Nós caminhamos, mas ainda falta muito." Com as comédias em alta na telona, aposta no retorno de bilheteria. "A vida tá estressante. Você sai de casa com medo de ser assaltado. Trabalha o dia inteiro e fica no engarrafamento. Quando vai ao cinema, o público quer rir."

    mônica bergamo

    Jornalista, assina coluna com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.

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