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    Mônica Bergamo

    'Não tenho mais saco', diz Vera Fischer sobre assistir televisão

    DE SÃO PAULO

    04/03/2014 03h00

    E só a Vera não viu

    Vera Fischer, 62, não vê mais televisão. "Eu não vejo nada desses negócios aí, não tenho mais saco. Nem TV aberta nem TV fechada! Só vejo o que compro na Livraria da Travessa", dizia ela no camarote Rio Samba e Carnaval, onde os amigos de Boni, 78, ex-todo-poderoso da TV Globo, reuniram-se antes do desfile em homenagem a ele pela escola de samba Beija-Flor.

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    Faltava pouco para a meia-noite de anteontem e a atriz ainda mantinha a lucidez -horas depois, ela saiu carregada do espaço, sem condições de entrar na avenida.

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    "Eu tenho uma pilha de DVDs na minha casa", dizia, com certa dificuldade. Está morando com o filho, Gabriel, 21. "Ele quis ficar comigo. Está fazendo cinema. Sabe um homem de verdade? Ele é. Com 15 anos, ele me falou: 'Mãe, eu não vou transar pela primeira vez com uma prostituta. Eu vou transar com uma namorada'."

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    E prosseguia: "A minha casa é grande. Ele falou: 'Mãe, posso usar o seu escritório para ficar com os meus amigos?' Pode! Pode tudo. É festa todos os dias lá em casa. Os amigos dele são maravilhosos!"

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    Poucos atores se animavam a conversar com a atriz, embora a tratassem com carinho na varanda do camarote, onde se apertavam também, em duas bancadas, estrelas como Tony Ramos, Ney Latorraca, Glória Menezes, Tarcísio Meira, Elizabeth Savalla, Regina Duarte, Luciano Huck e Angélica, Renato Aragão e Marília Gabriela. Perto dali estavam ainda Antonio Fagundes, Lima Duarte e Faustão.

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    O presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG) circulava com a mulher, Letícia, grávida de gêmeos -uma menina e um menino. "Olha a barriguinha dela!", apontava. "Vão se chamar Bernardo e Julia, que é o nome da minha avó paterna, mãe do Tancredo."

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    Angélica duvidava: "Você vai trocar fralda de madrugada?" E Aécio: "Eu vou fazer o que o Luciano [Huck, que tem três filhos com a apresentadora] sempre fez". E Angélica: "Ah, então não vai fazer nada! Quer dizer, ele fez: contratou uma babá".

    Francisco Cuoco contava que, após ter declarado, aos 80 anos, não recorrer ao Viagra para se relacionar com a mulher, Thaís, 27, a coisa "rendeu demais". "Tá pintando até comercial de televisão!"

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    Thaís detalhava mais um pouco: "Chamaram ele para fazer propaganda de um complexo de vitaminas".
    Elizabeth Savalla, 59, acertava com o autor Silvio de Abreu a sua participação na próxima novela das 7. A trama vai se chamar "Buu". Ele supervisiona o elenco. "Só falta acertar o dinheiro [com a TV Globo]. Mas isso é o de menos. A gente não trabalha por dinheiro, né, Silvio? Ninguém ficou rico na nossa profissão."

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    Regina Duarte, 67, subia na bancada, descalça, para fotografar os amigos. E contava: "Não posso aceitar qualquer trabalho. Eu digo a eles [Globo]: vocês colocaram esse selo de qualidade em mim. Agora... eu não posso fazer nada que não seja muito bom".

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    Silvio de Abreu elogiava o homenageado. "A gente está aqui não só pelo amigo mas por tudo o que ele representa. O Boni apostou na dramaturgia. E nós somos o que somos hoje, todos aqui, graças a ele. Nunca cobrou audiência. Boni dizia: 'Isso é problema meu'. Cobrava qualidade. Uma vez mandou refazer a cena de uma festa. 'Tá uma bosta', ele disse. Gastamos mais R$ 2 milhões. Ele colocava dinheiro. Não economizava. Os atores vinham do teatro. Hoje, não têm formação, aparecem e desaparecem."

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    Tony Ramos, 65, ao lado, concordava. "Tá passando um filminho disso tudo na minha cabeça."

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    Brincavam com a idade. "O Nilton Travesso [diretor] tem 61 anos de tevê", lembrou alguém. Glória Menezes, cerca de 50. "Daqui a pouco a gente tá aqui, 60! 70! 50! Bati! E aí estamos todos assim, ó", dizia Ney Latorraca, 69, jogando o rosto, de olhos fechados, para o lado, como se estivesse morto.

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    Hora de sair do camarote rumo ao carro alegórico que os espera do outro lado da avenida. As mulheres se trocam. Na maioria, vestem longo. Angélica surge exuberante num vestido transparente, cabelos arrumados por Celso Kamura, de plantão no sambódromo só para deixá-la impecável.

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    Eva Wilma, 80, num longo azul, anda com certa dificuldade por causa de uma cirurgia que fez no quadril. Vai de braços dados com Abreu. "Aqui no Rio não dizem 'descer do carro' e sim 'saltar'. Eu digo 'cuidado ou você morre!'." (Ela é uma espécie de mãezona. Mais tarde, já no micro-ônibus, quando Renato Aragão, 78, e Dedé Santana, 77, pegaram no sono antes mesmo de chegar à avenida, fechou o ar-condicionado. "Coitadinho, tá com frio?", perguntou a Didi).

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    Glória Menezes, 79, magra, posta-se à frente do cortejo, serelepe. Cinquenta seguranças fazem um cordão em torno dos artistas. Ney Latorraca comanda o ritmo para que ninguém fique para trás. "Para! Para! Estátua", grita. "Agora vamos, andando!". E todos seguem.

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    Todos, menos Vera Fischer. Pouco antes da partida, cambaleante, ela é amparada por assessores e retirada do lugar. Eles tentam driblar os fotógrafos. Em vão. A cena é registrada. E vira uma das mais comentadas na internet.

    mônica bergamo

    Jornalista, assina coluna com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.

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