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    Mônica Bergamo

    'Veja quantos argentinos', diz Angela Merkel 'nervosa' no Maracanã

    14/07/2014 02h00

    "Sim, eu estou muito nervosa", disse à coluna Angela Merkel no intervalo da partida entre a Alemanha e a Argentina, ontem, no Maracanã, no Rio. Antes mesmo de começar o jogo, ela circulava de um lado para o outro, sempre com uma taça de champanhe na mão. Bebeu várias.

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    A Folha acompanhou a partida final no camarote V-VIP ("Very-VIP), espaço de segurança máxima reservado aos chefes de Estado e à cúpula da Fifa. Nele também estavam a presidente brasileira, Dilma Rousseff, e o presidente russo, Vladimir Putin -que chegou cercado por cerca de 20 seguranças. Jornalistas são vetados no lugar.

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    Com mais de 45 minutos de jogo, as duas seleções seguiam empatadas. E a Argentina conseguia segurar os europeus com a ajuda de sua torcida azul e branca, uma das mais aguerridas de toda a Copa.

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    Merkel havia deixado a sua poltrona e, na companhia de um assessor, olhava para o gramado vazio. Depois de um certo tempo, começou a observar as arquibancadas.

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    "Veja quantos argentinos. Há muitos aqui no estádio. Ali [no lado oposto em que ela estava] só tem argentinos", afirmava a alemã.

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    A Folha diz a Merkel que, embora em menor número, os alemães contam com o apoio quase unânime dos brasileiros na arena.

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    "Agora eu tenho que me concentrar no jogo", despediu-se ela, retornando à sua poltrona.

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    "Eu disse ao [presidente da Rússia, Vladimir] Putin: mais um pouco e a [Angela] Merkel ia ter um ataque do coração", contava Dilma Rousseff.

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    No intervalo, a presidente conversava com convidados da Fifa -entre eles, Dunga, o capitão da seleção campeã do mundo em 1994 e depois técnico em 2010.

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    "Eu tô torcendo para nenhum dos dois ganhar", cochichou o ex-jogador no ouvido da presidente. Dilma riu até ir às lágrimas. "Essa foi boa!", disse ela. "Eu também, Dunga. Mas não dá, um vai ter que vencer."

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    Ainda que inconfessado, havia certo nervosismo entre assessores da presidente com a possibilidade de ela ter que entregar a taça a Messi, o craque da seleção arquirrival do Brasil. As vaias vindas da torcida, que já eram esperadas com qualquer resultado em campo, poderiam tomar proporções históricas.

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    "Olha, eu estou tranquila, viu? Eu estou me mirando no exemplo do rei sueco Gustavo 6º. Na final da Copa de 1958, na Suécia, o Brasil fez cinco gols na seleção deles, que estava na final. Fomos campeões e ele nos entregou a taça", disse Dilma à coluna.

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    "Aqui dentro, como presidente da República, eu não torço por ninguém. Você tem que admitir que é um esforço sobre-humano, né?", disse.

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    O gol da Alemanha, nos últimos minutos da prorrogação, foi o grande teste para Dilma. Ela levou a mão direita à boca, como quem segura o rosto inteiro para evitar transparecer qualquer emoção.

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    "Não, você está enganada. Eu fiz esse gesto várias vezes. Eu fiquei perplexa em alguns momentos do jogo, que foi muito bom", desconversou quando a Folha perguntou se aquele movimento poderia ser uma pista de sua predileção pela Alemanha, como ocorria com quase toda a torcida brasileira no Maracanã.

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    O presidente da Rússia, Vladimir Putin, parecia uma estátua no momento em que a Alemanha definiu a partida.

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    No camarote V-VIP, entre taças de champanhe Taittinger, o assunto ainda era o vexame do Brasil na Copa. "Faltou experiência. Faltou o Kaká e o Ronaldinho", dizia o tenor Plácido Domingo para o presidente da CBF, José Maria Marín.

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    O vice-presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, também demonstrava desânimo. "Nem dá vontade de ver o jogo hoje, né?"

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    "Eu não conseguia acordar no dia seguinte [da goleada da Alemanha sobre o Brasil]", dizia o ex-jogador Bebeto numa roda com Cafu e Dunga. "Era como se eu estivesse no meio de um pesadelo. Eu fiquei com vergonha de sair na rua."

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    Fim de jogo. "A Alemanha passou sufoco agora com a Argentina, com Gana e também com a Argélia. Não são eles apenas que são bons. O Brasil é que jogou muito mal", dizia Dunga.

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    O jogo duro dos vencedores contra a Argentina não reforça o fracasso do Brasil? "Reforça a nossa tristeza", responde Dilma à coluna, antes de sair do espaço V-VIP para entregar a taça aos campeões do mundo.

    mônica bergamo

    Jornalista, assina coluna com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.

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